António Ónio e Fer _ Performance BACM23

António Ónio e Fer _ Performance BACM23 (versão integral)

“Remeter o Dedo na Ferida” foi a performance apresentada por António Ónio e Fer no dia 17 de Junho, na Bienal da Maia de 2023.

Em 2012, Antonio Onio criou a performance METER O DEDO NA FERIDA. InspiradO em ideias interseccionais de queerness e classicismo, durante o verão de 2012 vários happenings aconteceram na cidade do Porto, na qual o publico tornava se o agente performativo de António , através de perguntas nada discretas, exibições de falta de pudor , mas acima de tudo um determinismo inabalável de ¨meter o dedo na ferida- falar do que não se deve, ser o que não se assume, e expo-lo para todos verem, debaixo de uma personagem – Onio. É através destes princípios que o Meter o Dedo na Ferida acontecia – shows sem hora para acabar, nos quais o publico era questionado, dissecado, e pregado a , numa altura em que ser diferente em Portugal ainda apresentava um risco fisico inerente, onde os profissionais de saude participavam orgulhosamente em slut shaming, em que os corpos periféricos eram usados como ¨cús¨ de anedotas, e onde um governo aparentemente socialista e demarcado com ideais progressistas sistematicamente prega inclusão, . Ora, interessante se pensarmos na natureza cíclica da política, em que nos encontramos, de forma diferente, num ponto em Portugal que faz com que esta performance tenha de voltar – assombrados pelo Chega, desprovidos de casa e de poder económico, os erros do passado parecem espreitar neste futuro. 10 anos depois, Antonio Onio volta para Portugal e alia-se ao estúdio A Leste, um dos poucos espaços artísticos D.I.Y. existentes na cidade, e conhece Fernanda Wurmbauer , AKA FER , e ambos revisitam este trabalho, criando a partir do que já lá esta uma nova possibilidade de REMETER O DEDO NA FERIDA.Ambos partilham uma fascinaçao gigante com a ideia de realidade – realidade como uma performance rigorosa, a qual ambos querem perverter, mas realidade como um local imaginário, que surge do universo interior paralelo de ambos – Eles envisionaram um Mundo, e juntos trabalham para mostrar ao publico as cores desse Maravilhoso Mundo Novo. Misturando realidade, ficção , reality show, rádio, dança pornográfica, líquidos corporais, e tudo o mais que possa ser nojento e abjecto, os performers celebram o incelebrável, e quebram qualquer noção de decoro social, para que, como seres mágicos e divinos, fazem o que não é permitido, o que é chato ,desagradável, indesejado , pois é só nesse lugar de total desinibição que se permite um encontro entre pessoas real, sem filtro. António e Fernanda propõe uma visão radical: a possibilidade de encontro real surge simplesmente pela completa artificialização do mesmo. Numa sociedade em que todos os conceitos denominados de ¨naturais¨ são construções ultra complexas, Antonio e Fer mergulham dentro da maquina do real, propondo uma nova forma de estarmos em comunidade, dentro do trabalho artístico.