Não por acaso, o espaço Hotelier instalou-se há uns anos na portuense Rua de Anselmo Braamcamp, um epicentro de projetos artísticos independentes e de pensamento livre. Definindo-se como um “atelier multiversal de experimentação artística contemporânea”, orientado para a reutilização de materiais, o projeto Hotelier liderado por Paula Lopes muda-se para a Maia, no decurso desta edição da BACM. Constituindo-se, nesta circunstância, tal como acontece no espaço-mãe, como um local de partilha, experimentação, reflexão crítica e aprendizagem – a par, aliás, do espaço A Leste – e afirmando-se, igualmente, como casa de acolhimento de projetos artísticos com práticas consonantes. A experiência da “piscina seca”, sala do espaço da Anselmo Braamcamp, cujos pavimento e paredes, parcialmente pintados de azul como se se tratasse de uma piscina, – ironia mordaz da lógica de consumo capitalista, a que não dispensa o “hotel com piscina” –, replica-se na Maia. Aqui, com recurso a materiais reciclados, desperdícios, aliás. Em fundo, uma paisagem sonora que é, de algum modo, sinónima de liberdade, sons captados enquanto Paula Lopes aprendia a nadar. Será esse o espaço privilegiado de experimentação, acolhimento de concertos e performances, de projetos artísticos diversos. No mesmo dia em que Inês Tartaruga e Xavier Paes aí se apresentam em concerto, e num mesmo contínuo conceptual, de futuros possíveis, Paula Lopes convida-nos para uma performance gastronómica, em linha com o trabalho que vem desenvolvendo no Hotelier: experiências gastronómicas de aprendizagem e partilha, de raiz vegan, sempre com a reutilização em mente: “Interessa-me a tentativa e erro e, essencialmente, a imperfeição, mais do que o seu contrário”, diz-nos a criadora. As suas explorações gastronómicas, ativadas pela participação do espetador, são enunciados de um modo de estar no mundo, enunciados de um modo diferente de pensar o mundo: ecológico, sustentável, escutando as respirações da terra.
Texto de Carla Santos Carvalho