artristas

Filhos de pais incógnitos, de parto natural, os Artristas nascem de vários destinos: Algarve, Vila do Conde, Amares e outros ainda por alcançar. Sem nome próprio, sem definição de género e abandonados, auto nomearam-se Artristas. Três. Errados. Tristes.

Desde o dealbar do ano 2017 que procuram o outro lado, o sonho impossível de apagar. Na Bienal de Arte Contemporânea da Maia vão apresentar uma performance gastronómica sobre comida que parece outras coisas. Coisas que não se comem. Coisas absurdas, cómicas, repulsivas. Um disfarce comestível. Faz de conta.

Hotelier e Paula Lopes

Não por acaso, o espaço Hotelier instalou-se há uns anos na portuense Rua de Anselmo Braamcamp, um epicentro de projetos artísticos independentes e de pensamento livre. Definindo-se como um “atelier multiversal de experimentação artística contemporânea”, orientado para a reutilização de materiais, o projeto Hotelier liderado por Paula Lopes muda-se para a Maia, no decurso desta edição da BACM. Constituindo-se, nesta circunstância, tal como acontece no espaço-mãe, como um local de partilha, experimentação, reflexão crítica e aprendizagem – a par, aliás, do espaço A Leste – e afirmando-se, igualmente, como casa de acolhimento de projetos artísticos com práticas consonantes. A experiência da “piscina seca”, sala do espaço da Anselmo Braamcamp, cujos pavimento e paredes, parcialmente pintados de azul como se se tratasse de uma piscina, – ironia mordaz da lógica de consumo capitalista, a que não dispensa o “hotel com piscina” –, replica-se na Maia. Aqui, com recurso a materiais reciclados, desperdícios, aliás. Em fundo, uma paisagem sonora que é, de algum modo, sinónima de liberdade, sons captados enquanto Paula Lopes aprendia a nadar.  Será esse o espaço privilegiado de experimentação, acolhimento de concertos e performances, de projetos artísticos diversos. No mesmo dia em que Inês Tartaruga e Xavier Paes aí se apresentam em concerto, e num mesmo contínuo conceptual, de futuros possíveis, Paula Lopes convida-nos para uma performance gastronómica, em linha com o trabalho que vem desenvolvendo no Hotelier: experiências gastronómicas de aprendizagem e partilha, de raiz vegan, sempre com a reutilização em mente: “Interessa-me a tentativa e erro e, essencialmente, a imperfeição, mais do que o seu contrário”, diz-nos a criadora. As suas explorações gastronómicas, ativadas pela participação do espetador, são enunciados de um modo de estar no mundo, enunciados de um modo diferente de pensar o mundo: ecológico, sustentável, escutando as respirações da terra.

Texto de Carla Santos Carvalho