A Leste
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Instalação
São bons ventos os que trazem o projeto A Leste até a BM23. Com eles chegam promessas de dias soalheiros e simultaneamente de tempestades.
No decurso da Bienal, esta comunidade de afetos, de experimentação transdisciplinar e reflexão crítica, transporta-se do Porto para a Maia. No espaço expositivo, propõe-se criar uma instalação performativa, híbrida e orgânica, que se auto define como um “local de partilha, empatia, multi-pluri-trans”. É nesse lugar de fruição, ao mesmo tempo de relaxamento e festa, de discussão e partilha, de exposição e pensamento – em permanente estado de ativação – que decorrem quatro momentos performativos que convidam à participação da comunidade: um projeto colaborativo dos artistas Leonor Parda e António Manso Preto; uma performance do bailarino e coreógrafo António Ónio; uma outra, da artista multidisciplinar FER, cuja prática se move entre a performance, a música e o teatro; e finalmente, a festa, que contará com as participações do artista visual e músico Pisitakun Kuantalaeng, bem como de FER, Onio e Parda.
Ocupando o lugar se transforma o lugar, se transforma o mundo. A Leste na Bienal da Maia é de alguma forma um epíteto de uma Bienal que se pretende afirmar como um espaço de “utopias realizáveis”.
Texto de Carla Santos Carvalho
Na bienal
Abel Mota
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Pintura
A prática artística de Abel Mota (n.1999) é, por natureza, hedonista. O prazer do jogo com elementos da pintura, como a cor ou a composição, ressoa dos seus trabalhos, nomeadamente dos mais recentes que podemos classificar como paisagens. O gesto largo, espontâneo e virtuoso ou a paleta cromática vívida são uma presença constante nessas obras, muitas delas realizadas en plein air. Também essa forma de fazer é sinónima da ideia de fruição, da ideia de prazer, inextricavelmente ligadas ao modus faciendi de Abel Mota.
A esta Bienal, o artista licenciado em pintura pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto (em conjunto com a École Nationale Supérieure des Beaux-arts de Paris), traz-nos precisamente uma série de obras em que a questão da paisagem é central. Desde logo, paisagens minhotas de grande escala, resultado da sua atividade artística mais recente, mas igualmente paisagens maiatas, produzidas especificamente para a BACM.
Em 2021, Abel Mota co-fundou a associação cultural O Bueiro, e nesse ano foi distinguido com o prémio “AJ” da Fundação Millennium BCP.
Texto de Carla Santos Carvalho
Na bienal
Afonso Rocha
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Pintura
No último ano, Afonso Rocha (n. 1999) tem vindo a desenvolver o projeto The Garden que se materializa num conjunto de meia centena de trabalhos, sobretudo pinturas e desenhos e, igualmente, fotografias e colagens, compreendendo duas vertentes: a paisagem e a figura humana. À BC23, o artista licenciado em pintura pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto (em conjunto com a École Nationale Supérieure des Beaux-arts de Paris), traz-nos as paisagens. E as paisagens de Afonso Rocha são fictícias, construídas no estúdio do artista a partir de representações fotográficas de paisagens captadas pelo próprio em diversos locais do norte do país – Maia incluída – mas, igualmente, recorrendo a uma seleção de obras da história da arte, de autores como Cézanne ou David Hockney. Desta conjugação de memória da pintura, mas simultaneamente de imagens fotográficas, nascem as representações ficcionais que aqui se mostram. Afonso Rocha é cofundador do projeto O Bueiro (2021) e integra o Proyecto MAP, tendo participado em exposições em Murcia e Buenos Aires. Em 2023 foi distinguido com o Prémio de Pintura D. Fernando II e com uma menção honrosa Innovate Grant.
Texto de Carla Santos Carvalho
Na bienal
Alice & Adrien Martins
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Performance
É impossível separar o corpus de trabalho de Alice Martins de uma ideia de performance. A artista, coreógrafa e performer franco-portuguesa move-se entre esses territórios das artes visuais e performativas, explorando as interseções entre o corpo e os contextos em que se insere, criando formas híbridas – objetos, instalações, performances – nas quais se materializam todos estes elementos. O corpo nas suas dimensões individuais e coletivas, o corpo nos seus múltiplos contextos, quer eles sejam normativos, ambientais, espaciais ou simbólicos. O corpo necessariamente na sua relação com o outro, que simultaneamente se partilha e se confronta com o outro. Com formação académica nas áreas da arquitetura e da dança e práticas do corpo, a artista multidisciplinar cresceu entre Paris e a pequena aldeia de Torres Vedras, Matacães – curiosamente um topónimo com ressonâncias luso-francesas –, e é também este singular cadinho sociocultural que enforma as suas criações. Em 2017, funda Objet Global, uma plataforma de pesquisa e experimentação do corpo, do espaço e das linguagens. No ano seguinte cria a companhia-atelier Passion Passion, no âmbito da qual apresenta trabalhos na Fundação Louis Vuitton, no Palais de Tokyo, na Biennale Internationale de Design de Saint-Étienne, entre outros. O projeto Galerie Cussiard, uma galeria itinerante que se propõe transportar a arte de bicicleta expondo os dispositivos que controlam os nossos movimentos, vale-lhe um prémio da Fondation de France. Com o seu irmão Adrien Martins constitui o duo Au carré, que atualmente se encontra a desenvolver um projeto em residência no Centre National de la Danse. É precisamente nesta parceria com Adrien Martins que a artista se apresenta na Bienal.
Texto de Carla Santos Carvalho
Na bienal
António Manso Preto
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Publicações
São bons ventos os que trazem o projeto A Leste até a BM23. Com eles chegam promessas de dias soalheiros e simultaneamente de tempestades.
No decurso da Bienal, esta comunidade de afetos, de experimentação transdisciplinar e reflexão crítica, transporta-se do Porto para a Maia. No espaço expositivo, propõe-se criar uma instalação performativa, híbrida e orgânica, que se auto define como um “local de partilha, empatia, multi-pluri-trans”. É nesse lugar de fruição, ao mesmo tempo de relaxamento e festa, de discussão e partilha, de exposição e pensamento – em permanente estado de ativação – que decorrem quatro momentos performativos que convidam à participação da comunidade: um projeto colaborativo dos artistas Leonor Parda e António Manso Preto; uma performance do bailarino e coreógrafo António Ónio; uma outra, da artista multidisciplinar FER, cuja prática se move entre a performance, a música e o teatro; e finalmente, a festa, que contará com as participações do artista visual e músico Pisitakun Kuantalaeng, bem como de FER, Onio e Parda.
Ocupando o lugar se transforma o lugar, se transforma o mundo. A Leste na Bienal da Maia é de alguma forma um epíteto de uma Bienal que se pretende afirmar como um espaço de “utopias realizáveis”.
António Onio
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Performance
São bons ventos os que trazem o projeto A Leste até a BM23. Com eles chegam promessas de dias soalheiros e simultaneamente de tempestades.
No decurso da Bienal, esta comunidade de afetos, de experimentação transdisciplinar e reflexão crítica, transporta-se do Porto para a Maia. No espaço expositivo, propõe-se criar uma instalação performativa, híbrida e orgânica, que se auto define como um “local de partilha, empatia, multi-pluri-trans”. É nesse lugar de fruição, ao mesmo tempo de relaxamento e festa, de discussão e partilha, de exposição e pensamento – em permanente estado de ativação – que decorrem quatro momentos performativos que convidam à participação da comunidade: um projeto colaborativo dos artistas Leonor Parda e António Manso Preto; uma performance do bailarino e coreógrafo António Ónio; uma outra, da artista multidisciplinar FER, cuja prática se move entre a performance, a música e o teatro; e finalmente, a festa, que contará com as participações do artista visual e músico Pisitakun Kuantalaeng, bem como de FER, Onio e Parda.
Ocupando o lugar se transforma o lugar, se transforma o mundo. A Leste na Bienal da Maia é de alguma forma um epíteto de uma Bienal que se pretende afirmar como um espaço de “utopias realizáveis”.
Na bienal
April
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Instalação
MUPI's
Performance
Residência Artística
Workshop
April (n.1999), drag queen e artista multimédia, nasceu e cresceu em Curitiba, no Brasil, mas gosta de afirmar que se “aprimorou no Porto”, cidade a partir da qual desenvolve atualmente a sua prática artística. O seu trabalho explora elementos de raiz transformista em articulação com a performance art. Encontramo-nos, claramente, perante um processo de busca e afirmação identitária, esse percurso contínuo em direção ao eu, “como quem vai em direção a uma meta” de que nos fala Foucault11. Michel Foucault, A hermenêutica do sujeito, trad. Márcio alves da Fonseca e Salma Tannus Muchail, (São Paulo, Martins Fortes, 2006), 262., que recorre a mediums como a performance, a música ou as artes visuais. Na Maia, o trabalho de April apresenta-se em diversas vertentes: exposição, publicação, workshop, vídeo e email arte. Em termos expositivos, exibem-se uma série de toalhetes desmaquilhantes que a artista usa no final das suas performances, nos quais ficaram impressos vestígios dos rostos das várias personagens em que se desmultiplica. Imagens que não deixam por isso de ser autoficções de si mesma, retratos de um eu em permanente transformação, em perpétuo aperfeiçoamento. A 17 de junho, a artista realiza uma oficina de pintura facial, equacionando precisamente esse processo de transformação do rosto; em agosto, participa na mostra de vídeo com uma obra realizada em parceria com a fotógrafa e videasta Léa Castro Neves (n. 2002); em junho, exibem-se, na rede de mupis, os registos fotográficos das múltiplas personagens em que April se transforma, captados por Léa Castro Neves.
Texto de Carla Santos Carvalho
Na bienal
Arcana
+
E-mail Arte
Performance
Publicações
O coletivo ARCANA nasceu das mentes de LAVA e Miss Jade numa mesa de café em frente ao Teatro Rivoli, no ano de 2020. Encontrando-se na Faculdade de Letras (onde estudam), as ideias e paradigmas que partilham (exemplo: ser queer, gostar de música eletrónica, ...) desencadearam esta união de artistas. Vindos desde São Paulo até o Porto, fundem-se num linguajar agressivo e pulsante de energia, tanto ao nível estético quanto musical. Com apenas um ano de existência, já pisaram palcos como a Galeria Zé dos Bois em Lisboa e Passos Manuel no Porto, marcando estreia na cidade que os acolheu. Cada um com a sua personalidade, porém com ambivalências que se conectam ao som do grave, do caos e da contemporaneidade marginal. Nosso lema é “PUTARIA DA BRABA E MUITA MÚSICA BOA”.
Liza Frank é DJ, ilustradora e designer e é parte integrante do coletivo ARCANA. Residente no Porto mas com o coração para sempre preso ao ciberespaço, os seus sets são uma amálgama coesa e frenética de sons derivados da cultura da Internet, da cultura pop japonesa e portuguesa e da música dance queer.
Bug Snapper é músico, produtor e artista multimédia do Porto. Em formato DJ set, promete dirigir uma viagem musical por várias das suas influências dentro da música de dança electrónica, passando por géneros como IDM, breakbeat, techno, acid house e dance-pop.
LAVA é a/o personagem de intervenção performática de Allian Fernando, seu hospedeiro, artista plástico e um dos fundadores do coletivo ARCANA. Influências do funk de São Paulo e Rio de Janeiro estão presentes nos seus sets, variando do rave ao experimental, aliado ao universo hyperpop e afro-beat.
Na bienal
Artristas
+
Performance Gastronómica
Filhos de pais incógnitos, de parto natural, os Artristas nascem de vários destinos: Algarve, Vila do Conde, Amares e outros ainda por alcançar. Sem nome próprio, sem definição de género e abandonados, auto nomearam-se Artristas. Três. Errados. Tristes.
Desde o dealbar do ano 2017 que procuram o outro lado, o sonho impossível de apagar. Na Bienal de Arte Contemporânea da Maia vão apresentar uma performance gastronómica sobre comida que parece outras coisas. Coisas que não se comem. Coisas absurdas, cómicas, repulsivas. Um disfarce comestível. Faz de conta.
Na bienal
Bug Snapper
+
Concerto
E-mail Arte
Publicações
Vídeo
Logo nos planos iniciais de Greenhouse (2023) – título de um vídeo realizado para uma música homónima – transparece a influência formal que o cinema experimental do norte-americano Stan Brakhage (1933-2003) exerce neste exercício de Bug Snapper, projeto a solo do músico, produtor, DJ e artista multimédia Rui Santos (1998). Se pensarmos em alguns planos da curta-metragem The wonder ring (1955), como é o caso dos travellings de câmara ao ombro, só para dar um exemplo, essa marca, aliás reclamada pelo artista portuense, torna-se evidente. Claro que a imagética também essencialmente abstrata de Bug Snapper é um produto do seu tempo. Do ponto de vista visual, o artista recorre a uma mescla de imagens digitais de satélite e imagens geradas por inteligência artificial, com o propósito de acompanhar uma composição musical eletrónica. O trabalho tem como referência estética, explica o artista, a glitch art, ou seja, a identificação de falhas, de erros, de distorções e a sua incorporação propositada nas sequências, gerando movimentos rápidos abstratizantes. Este trabalho Bug Snapper exibe-se na mostra de vídeo. O artista fará igualmente uma performance enquanto músico e DJ. Se o seu trabalho na banda Cat Soup se centra no rock instrumental e no pós-rock, já o percurso que vem percorrendo a solo – que deu origem a dois EP, um single e ao álbum Neptune Recreation Center (2022), tem uma essência eletrónica, com faixas mais rítmicas e dançáveis, outras próximas da ambient music, cujo elemento comum é uso de sintetizadores.
Texto de Carla Santos Carvalho
Na bienal
Carla Castiajo
+
Escultura
Vídeo
Workshop
Questionar, inquietar, provocar. A estes verbos – mutações de um estado para outro – se pode associar o corpus de trabalho de Carla Castiajo (n. 1974). A artista, que tem o cabelo humano como principal matéria do seu fazer artístico, constrói a sua prática no espaço intersticial de uma série de antonímias: atração/aversão, belo/horrível, coincidência/desfasamento ou vida/morte. Os materiais orgânicos de que se compõem as obras de Castiajo, concretamente os que aqui se apresentam, desde logo o cabelo, revestem-se de um carácter metonímico, ou como nos ensinou Rosalind E. Krauss, de um carácter indicial11. Rosalind E. Krauss, “Notes on the index: part 2”, in The originality of the Avant-Garde and other modernist myths, (The MIT Press, 1986), 211.. Estes vestígios indiciais, os cabelos, os pelos púbicos, são formas de estabelecer uma presença, que é simultaneamente uma ausência, dir-se-ia. Ao explorar estes materiais, Castiajo pretende refletir sobre questões do nosso tempo, que são simultaneamente questões de todos os tempos. Ao construir objetos artísticos – quer sejam joalharia, o seu medium primordial, quer sejam escultura – cuja matéria base é um elemento orgânico que acompanha a existência material do sujeito, mas que lhe sobrevive, a artista portuense convoca uma das preocupações mais recorrentes do humano, a finitude. A estes objetos não é também alheia uma certa ideia de hibridismo, na medida em que a joalharia pode ser escultura, a escultura pode ser joalharia. Recentemente, a artista integrou o bordado na sua prática artística e, nesse contexto, realiza na BM23 um workshop em colaboração com a Associação Artes Criativas da Maia.
Texto de Carla Santos Carvalho
Na bienal
Carla Santos Carvalho
+
Texto
Carla Santos Carvalho é jornalista de cultura e investigadora, amante das árvores e das artes. O mestrado em Estudos de Arte - Estudos Museológicos e Curatoriais, pela Faculdade de Belas Artes - Universidade do Porto ("Autoficção: Uma ferramenta heurística de produção e receção crítica da obra de arte" [Mérito]) e a licenciatura em Ciências da Comunicação pela FLUP, conferem ao seu trabalho uma mistura única de conhecimento académico e experiência jornalística.
Desde 2022 é investigadora colaboradora do Centro de Estudos Arnaldo Araújo - Arte e Estudos Críticos. Em 2023 ganhou o 1º Prémio na categoria Vídeo do concurso Minho Storytelling com o documentário “Landra: Um projeto de vida” (2022), também finalista no Do(C)ôa Nature Film Festival.
Tem uma carreira distinta como jornalista, principalmente como repórter na S.I.C. de 1994 a 2020. Especializou-se em assuntos culturais, nomeadamente nas áreas das artes visuais, artes performativas e literatura. Ao longo do seu percurso profissional, realizou dezenas de entrevistas com inúmeros artistas nacionais e estrangeiros. Atualmente, tem estado ativamente envolvida na investigação e no apoio curatorial a diversas exposições, nomeadamente, a Bienal de Arte Contemporânea da Maia 23 e, igualmente, na moderação de debates culturais.
Na bienal
Carlos Trancoso
+
E-mail Arte
Fotografia
Instalação
MUPI's
Publicações
Residência Artística
Vídeo
O olhar perspetivado no trabalho de Carlos Trancoso (n.1989), é primordialmente um olhar fotográfico. É a partir dele que o artista multidisciplinar questiona as formas como o ser humano se relaciona com a tecnologia, criando imagens sem câmara, cruzando diversos meios com imagens geradas por computador.
Operando nas fronteiras entre o documental e a ficção, Trancoso questiona os padrões estabelecidos de criação imagética nas sociedades hodiernas.
Na Bienal da Maia, o artista ultrapassa os limites da bidimensionalidade ao criar objetos tridimensionais, com recurso à impressão 3D. Refletindo sobre o conceito de documento digital, em duas vertentes, enquanto veículo de informação e simultaneamente como testemunho de comportamentos isolados num cenário virtual, a série Backup, que aqui se apresenta, usa a duplicação, a cópia, enquanto mecanismo de poder, transformando-a dessa forma em protocolo. Os trabalhos de Trancoso iteram a ideia de que, na era digital, o “direito ao esquecimento” é uma aporia inultrapassável. Além da série Backup, apresentam-se no espaço expositivo do Fórum publicações realizadas pelo artista e podemos. Igualmente, observar alguns dos seus trabalhos na rede de mupis da cidade. In situ, propõe-se, num primeiro momento, fotografar artistas e outras pessoas envolvidas na Bienal, trabalhos que após a impressão, recorte e montagem adquirem uma natureza tridimensional. Esse efeito transformador, do “bi ao tri”, será igualmente experienciado pelo público num workshop.
Texto de Carla Santos Carvalho
Na bienal
Clara de Cápua
+
E-mail Arte
Publicações
Vídeo
Duas projeções simultâneas, duas narrativas paralelas convergem para um desfecho anunciado. O movimento perpétuo das marés, a passagem do tempo ou lembrando o que nos ensina Didi-Huberman, “diante da imagem estamos sempre diante do tempo”11. Georges Didi-Huberman, Diante do tempo, trad. Luís Lima, (Lisboa, Orfeu Negro, 2017), 9., pois perante a imagem passado e presente não cessam de se reconfigurar, não cessam de se desmultiplicar. Numa das imagens em movimento que agora observamos, um corpo abandona-se à beira-mar e há de ficar lentamente submerso pela subida da maré, até se desvanecer nas águas atlânticas de Coruripe; na outra que corre simultânea, à medida que a maré baixa, uma pequena embarcação de pesca, sem mestre, qual navio fantasma, vai acostando até encalhar ou “dar em seco”, como diriam os pescadores deste lado do atlântico. Este exercício fílmico, intitulado Naufrágio (2021), da autoria de Clara de Cápua (n. 1984) incorpora os temas recorrentes da artista brasileira. É com ele que participa na Bienal, concretamente na mostra de vídeo. Atualmente doutoranda da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, Clara de Cápua é licenciada em Artes Cénicas e Mestre em Artes. A sua práxis desenvolve-se precisamente nestes dois domínios: as artes performativas e as artes visuais, explorando questões de temporalidade, as tensões ausência/presença, bem como as pulsões narrativas que emanam da imagem. Recorre a diversos mediums como o desenho, a gravura, a pintura ou o vídeo.
Texto de Carla Santos Carvalho
Na bienal
Diogo Nogueira
+
E-mail Arte
Escultura
Outdoor
Pintura
Residência Artística
Workshop
O projeto artístico de Diogo Nogueira (n.1999) tem um carácter autoficcional, no qual reflexões e elementos autobiográficos se cruzam com uma investigação em torno de temas basilares da história da arte ocidental, concretamente dos seus mitos fundadores e da forma como eles se repercutem na contemporaneidade. O artista, licenciando em pintura pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, refere-se à sua prática como uma “auto-mitologia” que pretende, simultaneamente, constituir-se como uma espécie de “mitologia queer”. Especificamente no caso da obra que se agora apresenta, Lutas são feitas fora de casa, senão fica tudo sujo, cujo meio primordial é a cerâmica – mas cujas origens são a pintura e o desenho – o artista usa como referência as gravuras rupestres de Ardegães, bem como alguns objetos cerâmicos datáveis da Idade do Cobre, (partes integrantes do sítio arqueológico, localizado em 2004, no âmbito da Carta Arqueológica do concelho da Maia) e, concomitantemente, todo um referente imagético contemporâneo, pessoal e coletivo, que se reifica nesse conjunto cerâmico, do qual emana uma narrativa necessariamente ficcional que interpela o visitante da Bienal.
Diogo Nogueira é membro fundador do projeto O Bueiro (2021), e, atualmente, é artista residente no Clube de Desenho.
Texto de Carla Santos Carvalho
Na bienal
Fátima Vieira
+
Texto
Fátima Vieira é Vice-Reitora da Universidade do Porto (Cultura, Museus e U.Porto Edições). Professora Associada com Agregação da Faculdade de Letras, onde ensina desde 1986, foi membro do Conselho Geral da Universidade do Porto de 2012 a 2014 e pertenceu a diversos conselhos e comissões científicas desde que se doutorou, em 1998. Foi Diretora do Departamento de Estudos Anglo-Americanos de 2008 a 2010 e Presidente da Utopian Studies Society / Europe de 2006 a 2016. É atualmente a Coordenadora do polo do Porto do CETAPS – Centre for English, Translation and Anglo-Portuguese Studies, financiado pela FCT.
Na bienal
FER
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Instalação
Performance
São bons ventos os que trazem o projeto A Leste até a BM23. Com eles chegam promessas de dias soalheiros e simultaneamente de tempestades.
No decurso da Bienal, esta comunidade de afetos, de experimentação transdisciplinar e reflexão crítica, transporta-se do Porto para a Maia. No espaço expositivo, propõe-se criar uma instalação performativa, híbrida e orgânica, que se auto define como um “local de partilha, empatia, multi-pluri-trans”. É nesse lugar de fruição, ao mesmo tempo de relaxamento e festa, de discussão e partilha, de exposição e pensamento – em permanente estado de ativação – que decorrem quatro momentos performativos que convidam à participação da comunidade: um projeto colaborativo dos artistas Leonor Parda e António Manso Preto; uma performance do bailarino e coreógrafo António Ónio; uma outra, da artista multidisciplinar FER, cuja prática se move entre a performance, a música e o teatro; e finalmente, a festa, que contará com as participações do artista visual e músico Pisitakun Kuantalaeng, bem como de FER, Onio e Parda.
Ocupando o lugar se transforma o lugar, se transforma o mundo. A Leste na Bienal da Maia é de alguma forma um epíteto de uma Bienal que se pretende afirmar como um espaço de “utopias realizáveis”.
Na bienal
Filipa Valente
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E-mail Arte
Instalação
Palestra
Publicações
Residência Artística
Vídeo
O projeto de Filipa Valente (n. 1999) Campos Magnéticos: Rede informal de espaços geridos por artistas no Porto, entre 1999 e 2022, propõe-se analisar criticamente “a problemática da relação entre a prática curatorial independente autogerida por artistas e o contexto expositivo institucional e respetiva legitimação simbólica”. A artista/investigadora e curadora identificou e mapeou os espaços geridos por artistas na cidade do Porto nas últimas décadas, ao mesmo tempo que foi registando o percurso dos artistas que por aí passaram e, por maioria de razão, observando a cidade enquanto ser vivo em permanente mutação. O resultado dessa investigação desdobra-se em múltiplas plataformas. Desde logo, num site “arquivo-vivo”, cujo propósito se enuncia a três níveis: identificar, documentar e divulgar. A participação de Filipa Valente nesta Bienal ocorre em duas dimensões: uma delas relacionada com a investigação Campos Magnéticos, primeiro em formato expositivo de representação gráfica da investigação, mas também em vídeo, email arte e uma publicação (no caso, o mapa resultante do projeto que permite ao espetador uma deriva pela cidade, fazendo o reconhecimento dos espaços mencionados); e, igualmente, na vertente residência artística, no âmbito da qual recorre a técnicas artesanais ancestrais como o ponto de Arraiolos, o bordado ou a tecelagem como forma de representação de espécies da fauna e flora lusitânica, para desenvolver um projeto que reflete sobre uma questão bem contemporânea, a problemática dos ecossistemas ameaçados, como consequência da ação humana. Como o curador José Maia gosta de afirmar, o trabalho de Filipa Valente presente nesta BACM “tal como a pista de dança [espaço central desta edição], é uma utopia realizável”.
Texto de Carla Santos Carvalho
Na bienal
Gustavo Silvamaral
+
Instalação
No último trimestre de 2022, o artista brasileiro Gustavo Silvamaral (n. 1995) desenvolveu no âmbito de uma residência artística, no Porto, o projeto Santo do Pau Oco, refletindo sobre a problemática da mineração aurífera no período colonial e as suas consequências para o território brasileiro, tendo como referencial poético a figura de D. Pedro I (D. Pedro IV, de Portugal) – desde logo, a sua importância no processo de independência do Brasil e simultaneamente a ligação à cidade do Porto. É precisamente a partir desse projeto que o artista cria as instalações, Golden Shower - Altar para um Santo do Pau oco (2022) e O grande roubo (2022) que se apresentam na BACM. A primeira, composta de esculturas de barro, papel, madeira e bomba de água, tem como elemento central uma representação do rei/imperador à qual foi subtraído o coração (dela ressoa, aliás, um certo anacronismo: a memória pueril do “soldadinho de chumbo” que já não pode hoje ser de chumbo, aqui general sem exército e sem coração), o polémico coração “deixado no Porto”, enquadrado por esse arco triunfal amarelo dourado, aludindo à talha dourada. Dois pequenos anjos ladeiam a figura do rei e sobre ele largam os seus íntimos fluidos, nesse movimento que o artista designa por golden shower. Ora, é impossível não invocarmos aqui quer a obra Self portrait as a fountain (1966-67) de Bruce Nauman, em que “a problemática da narração do eu está inextricavelmente entrelaçada com a autocrítica estética e a problematização dos meios artísticos”11. Carla Santos Carvalho, “Autoficcção: uma ferramenta heurística de produção e receção crítica da obra de arte”, Dissertação de mestrado não-publicada, (Universidade do Porto, 2022), 31., que, por sua vez, é inequivocamente uma citação da Fonte de Marcel Duchamp. Silvamaral transporta-nos, portanto, numa espiral mise en abyme, quer nesta, quer na instalação intitulada O grande roubo, composta por coração de porco em recipiente de vidro, suspenso como se pairasse sobre os comuns mortais e, em fundo, outra vez, o ouro do Brasil, curiosamente representado por cobertores isotérmicos de emergência que, por antítese, não podemos deixar de associar à hodierna tragédia dos refugiados no Mediterrânio. O coração, aqui numa quase literalidade em relação ao real, surge-nos dentro desse recipiente translúcido, com duas alças, em jeito de mala que se transporta para qualquer lado, que se transporta para outra realidade. O ouro desta instalação está intrinsecamente ligado ao amarelo, a cor primordial da prática artística de Silvamaral. Como defende Pastoureau: “Escrever a história do amarelo no Ocidente é também…escrever em parte a do ouro, fértil e difícil, tantos são os domínios em que intervém e os problemas que o seu estudo levanta”22. Michel Pastoureau, Amarelo, trad. José Alfaro, (Lisboa, Orfeu Negro, 2021), 13.. Questionar os limites da pintura, no fundo, é quase sempre disso que trata, quando consideramos um corpus de trabalho a que está subjacente uma ideia de pintura, independentemente do medium que é utilizado pelo artista brasileiro.
Texto de Carla Santos Carvalho
Na bienal
Henrique Apolinário & Sirte
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Concerto
Artista transdisciplinar, ator, músico, performer, educador, engenheiro de som. É longa a lista de práticas (podia ser mais longa, talvez) que Henrique Apolinário (n. 1994) tem vindo a desenvolver na última década. De todas elas ressoam denominadores comuns. Por um lado, o questionamento das correlações entre a performatividade dos sons e dos corpos, por outro, e do ponto de vista especificamente musical, o enfoque no desenvolvimento de técnicas experimentais de composição, improvisação e direção musical. Numa afirmação que é todo um enunciado, o artista refere que a sua práxis é uma busca reiterada de “estados psicossomáticos imersivos, procurando uma ligação anímica dos corpos através de pulsações partilhadas, sinestesia e comunicação não-verbal”. Cruzamentos, interseções, apropriações, improvisações, experimentações, conexões, afinidades. De tudo isto se fez o concerto performance em que Apolinário se apresentou com um novo projeto.
O ensemble Sirte é dirigido pelo próprio, que é também violinista, contando com Beatriz Rola, em viola de arco, António Feiteira na percussão e David Machado na eletrónica e processamento de áudio em tempo real. O concerto, em que o ensemble se propôs amplificar as fontes acústicas “com precisão sónica”, transformando o som num instrumento que se acrescenta aos demais e, simultaneamente, funciona como peneira de todos os outros, apresentou sonoridades “hipnóticas, densas, repetitivas” abrindo um espaço à possibilidade da dança.
Texto de Carla Santos Carvalho
Na bienal
Hotelier/Paula Lopes
+
E-mail Arte
Intervenção no espaço
Performance Gastronómica
Não por acaso, o espaço Hotelier instalou-se há uns anos na portuense Rua de Anselmo Braamcamp, um epicentro de projetos artísticos independentes e de pensamento livre. Definindo-se como um “atelier multiversal de experimentação artística contemporânea”, orientado para a reutilização de materiais, o projeto Hotelier liderado por Paula Lopes muda-se para a Maia, no decurso desta edição da BACM. Constituindo-se, nesta circunstância, tal como acontece no espaço-mãe, como um local de partilha, experimentação, reflexão crítica e aprendizagem – a par, aliás, do espaço A Leste – e afirmando-se, igualmente, como casa de acolhimento de projetos artísticos com práticas consonantes. A experiência da “piscina seca”, sala do espaço da Anselmo Braamcamp, cujos pavimento e paredes, parcialmente pintados de azul como se se tratasse de uma piscina, – ironia mordaz da lógica de consumo capitalista, a que não dispensa o “hotel com piscina” –, replica-se na Maia. Aqui, com recurso a materiais reciclados, desperdícios, aliás. Em fundo, uma paisagem sonora que é, de algum modo, sinónima de liberdade, sons captados enquanto Paula Lopes aprendia a nadar. Será esse o espaço privilegiado de experimentação, acolhimento de concertos e performances, de projetos artísticos diversos. No mesmo dia em que Inês Tartaruga e Xavier Paes aí se apresentam em concerto, e num mesmo contínuo conceptual, de futuros possíveis, Paula Lopes convida-nos para uma performance gastronómica, em linha com o trabalho que vem desenvolvendo no Hotelier: experiências gastronómicas de aprendizagem e partilha, de raiz vegan, sempre com a reutilização em mente: “Interessa-me a tentativa e erro e, essencialmente, a imperfeição, mais do que o seu contrário”, diz-nos a criadora. As suas explorações gastronómicas, ativadas pela participação do espetador, são enunciados de um modo de estar no mundo, enunciados de um modo diferente de pensar o mundo: ecológico, sustentável, escutando as respirações da terra.
Texto de Carla Santos Carvalho
Na bienal
Hugo Adelino
+
Fotografia
MUPI's
Numa edição da Bienal em que a ideia de transformação e desmultiplicação do eu é de alguma forma transversal às práticas artísticas que nela se desvelam, não deixa de ser assinalável o facto do percurso profissional e, necessariamente, de vida de Hugo Adelino (n. 1985) ter experimentado uma mudança radical em 2016, quando optou por tornar-se fotógrafo freelancer em vez de seguir o caminho expectável após a licenciatura em optometria e ciências da visão. No fundo, é de uma visão que se fala quando se pensa no trabalho fotográfico que realiza, mas neste caso, de um olhar perspetivado sobre o mundo em que vive. E é desse olhar, em duas dimensões, que se faz a sua participação na Bienal. Primeiro na qualidade de fotógrafo oficial das exposições e das performances para o catálogo do certame, mas, igualmente, revelando-nos um olhar mais subjetivo, mais livre, se se quiser, materializado num conjunto de imagens fotográficas a propósito do universo da Bienal e que serão exibidas na rede municipal de mupis.
Texto de Carla Santos Carvalho
Na bienal
Hugo Miguel Santos
+
E-mail Arte
Publicações
Texto
Hugo Miguel Santos (1995) nasceu em Viana do Castelo.
Escreveu Prelúdio e Fuga em Português Suave, publicado pela Fresca Editores (2022), e participou no volume colectivo Opúsculos Dramáticos, editado pela Público Reservado (2021).
Estudou Filosofia na Universidade do Porto e na Università degli Studi di Milano. Mestre em Estudos Literários, Culturais e Interartes com a Dissertação final Poéticas do Nome Próprio na Contemporaneidade: algumas Hipóteses de Leitura, pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
Escreve regularmente para exposições individuais de artistas plásticos como Francisco Venâncio, João Bonito, Nuno Ramalho e Paulo Mariz. E com Francisco M. Gomes iniciou a Mostra de Primeiras Curtas (2019) no Café Candelabro.
Passa a maioria do seu tempo na Livraria Térmita, onde é livreiro e ajuda a organizar tudo o que seja necessário desde exposições, apresentações de livros ou mostras de filmes.
Na bienal
Iñaki Aires
+
E-mail Arte
Instalação
MUPI's
Performance
Publicações
Iñaki Aires (n. 1996) vive e trabalha no Porto, cidade a partir da qual desenvolve um modus faciendi assente sobretudo na tatuagem, essa arte milenar de transformação do corpo. Foi na portuense escola artística Soares dos Reis que Aires se iniciou nesta prática, tendo vindo a colaborar, desde então, com estúdios de tatuagem um pouco por todo o mundo. Neste percurso foi construindo um multifacetado arquivo imagético, que integra a sua iconografia, bem como outros trabalhos gráficos e fotográficos, que usa como base quer para a elaboração de publicações de artista, quer para a transposição para os corpos.
Na Maia, em jeito de performance, procede à tatuagem de um corpo no dia inaugural de uma Bienal que se afirma precisamente como sendo de formação e transformação, de partilha e debate, convocando várias linhas de pensamento crítico, desde logo, a da identidade. Ora, se o questionamento do corpo em transformação é de alguma forma transversal a muitas práticas artísticas em presença, ele é-o indubitavelmente quando pensamos em tatuagem. A partir do seu arquivo imagético, Iñaki Aires, também aqui trará um conjunto de colagens, realizadas a partir de imagens retirada de antigas enciclopédias, desde o século XVI até aos nossos dias, que desprovidas do seu contexto original e num exercício de alguma forma abstratizante são aqui justapostas e sobrepostas adquirindo novos significados.
Texto de Carla Santos Carvalho
Na bienal
Inês Coelho
+
E-mail Arte
Escultura
Publicações
Inspirado em aspetos particulares do quotidiano, o fazer escultórico de Inês Dias Coelho (n. 1996) tem um carácter marcadamente lúdico e onírico, mas simultaneamente desafiador das convenções sociais, desde logo, as que dizem respeito a questões de sexualidade.
Nesta exposição apresenta-se um conjunto de obras – escultura e instalação – quer no espaço expositivo interior, quer no exterior. A artista recorre a materiais tão ecléticos quanto o cimento, o ferro, o latão, o espelho, a pasta de papel, o serrim, a madeira e um outro, o mosaico cerâmico, que tem sido uma presença constante no seu trabalho. Uma das suas peças fulcrais nesta exposição, pode dizer-se, é Sad disco (2022). Uma bola de espelhos, representando duas faces tristes. Uma espécie de lose-lose situation que por antítese se inscreve precisamente nesse objeto de carácter lúdico, a bola de espelhos, que inevitavelmente associamos à ideia de festa A obra e as suas antinomias apresentam-se num espaço expositivo central que durante a Bienal será precisamente sinónimo de comunidade, de festa e de partilha.
Inês Dias Coelho (n. 1996) é licenciada em Artes Plásticas/Escultura, pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto e pós-graduada em Multimédia/Cultura e Artes, pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto.
Texto de Carla Santos Carvalho
Na bienal
Inês Tartaruga Água
+
E-mail Arte
Performance
Publicações
Vídeo
Workshop
A prática artística multidisciplinar de Inês Tartaruga Água (n. 1994) centra-se nas questões da ecologia profunda, da regeneração radical e da biopolítica. É nesse contexto que se afirma como exploradora de plasticidades sonoras, bem como de práticas colaborativas e participativas no espaço público, alicerçadas numa filosofia DIY. Será precisamente sob os lemas da partilha de conhecimento e do do it yourself que a artista nos propõe, a 23 de setembro, uma aproximação ao seu projeto ongoing ToxiCity, que recolhe e mapeia os níveis de toxicidade ao ar das cidades, refletindo sob as formas como o Antropoceno está a lidar com a emergência climática. Numa primeira fase, propõe-nos um workshop de criação de um leitor de poluição “noise-disruptivo”, e horas mais tarde, a partir desse trabalho de recolha e mapeamento realizará uma performance, em que se equacionam as relações entre humano/natureza/tecnologia. Ambas as ações decorrerão no espaço Hotelier e no espaço exterior do Fórum, a 23 de setembro. Os objetos/instrumentos auto construídos são recorrentemente usados nos concertos performance do duo formado por Inês Tartaruga e Xavier Paes (n. 1994), o artista transdisciplinar que se movimenta entre os campos das artes plásticas, performance e improvisação, a partir de uma essência sonora. Este projeto incorpora, precisamente, todas estas vertentes: trata-se de um duo de música exploratória, criador de paisagens sonoras que vagueiam entre as experiências meditativas, etéreas, a espaços espectrais, e os momentos de explosão/subducção eletroacústica. Inês Tartaruga e Xavier Paes apresentam-se em concerto/performance na BACM a 15 de julho, igualmente no espaço Hotelier.
Na bienal
Inês Tartaruga Água & Xavier Paes
+
Instalação
A prática artística multidisciplinar de Inês Tartaruga Água (n. 1994) centra-se nas questões da ecologia profunda, da regeneração radical e da biopolítica. É nesse contexto que se afirma como exploradora de plasticidades sonoras, bem como de práticas colaborativas e participativas no espaço público, alicerçadas numa filosofia DIY. Será precisamente sob os lemas da partilha de conhecimento e do do it yourself que a artista nos propõe, a 23 de setembro, uma aproximação ao seu projeto ongoing ToxiCity, que recolhe e mapeia os níveis de toxicidade ao ar das cidades, refletindo sob as formas como o Antropoceno está a lidar com a emergência climática. Numa primeira fase, propõe-nos um workshop de criação de um leitor de poluição “noise-disruptivo”, e horas mais tarde, a partir desse trabalho de recolha e mapeamento realizará uma performance, em que se equacionam as relações entre humano/natureza/tecnologia. Ambas as ações decorrerão no espaço Hotelier e no espaço exterior do Fórum, a 23 de setembro. Os objetos/instrumentos auto construídos são recorrentemente usados nos concertos performance de Inês Tartaruga e Xavier Paes (n. 1994), o artista transdisciplinar que se movimenta entre os campos das artes plásticas, performance e improvisação, a partir de uma essência sonora. O projeto incorpora, precisamente, todas estas vertentes: trata-se de um duo de música exploratória, criador de paisagens sonoras que vagueiam entre as experiências meditativas, etéreas, a espaços espectrais, e os momentos de explosão/subducção eletroacústica. Inês Tartaruga e Xavier Paes apresentam-se em concerto/performance na BACM a 15 de julho, igualmente no espaço Hotelier.
Texto de Carla Santos Carvalho
Na bienal
Joana Mendonça
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Texto
Nascida em 1982, natural de Viseu, vive e trabalha no Porto. Licenciada em artes plásticas pela FBAUP, pós-graduada em Gestão Cultural (ULHT, Lisboa), e em Estudos Curatoriais (FBAUL/Gulbenkian), Doutora em Educação Artística pela FBAUP - Porto com a tese The Imaginary Life of a Necessary Museum - Reflections on Art Mediation Practices in Contemporary Art, com orientação de Nora Sternfeld (Aus.) e Catarina Martins (FBAUP). A sua área principal de atuação acontece na relação estabelecida entre arte contemporânea e os seus públicos nos mais diversos contextos, e na relação entre educação formal e não formal em contextos museológicos. Integra o Serviço Educativo do Museu de Serralves desde 2009, onde é atualmente responsável por conceber e orientar formações com agentes culturais dos Municípios fundadores. É docente Adjunta Convidada na Unidade Técnico Científica de Artes Visuais da Escola Superior de Educação do Porto desde 2018, e docente convidada equiparada a professora auxiliar na Escola de Arquitetura, arte e design da Universidade do Minho. É investigadora no Projeto de Erasmus + "Press Here - a Living Archive on European Industry" promovido pela Casa da Imagem. Participa regularmente em conferências nacionais e internacionais com comunicações e é membro integrado do INED - Centro de Investigação e Inovação em Educação - ESE/IPP.
Na bienal
José Filipe Alexandre
+
Design
MUPI's
José Filipe Alexandre (n. 1997), mestre em Design de Comunicação, tinha como horizonte a conceção da identidade gráfica da BACM 2023, a Bienal que vem caminhando e que caminhando se transforma, caminhando se desmultiplica em possíveis caminhos futuros. A imagética que resultou do seu trabalho reflete essa multiplicidade constitutiva. Por um lado, mergulha nas formas tradicionais, nos modos de fazer ancestrais, na manualidade, – especificamente, nos bordados maiatos e minhotos, cuja influência, aliás, reconhecemos nas práticas de vários artistas que nesta circunstância se desvelam –, mas que simultaneamente incorpora o pixel, esse menor elemento-imagem, que inevitavelmente associamos a uma contemporaneidade digital, iterada, inelutável. Com algumas particularidades. No espaço expositivo os textos de paredes são aqui substituídos por imagens, quase murais, criados por José Filipe Alexandre. Desde logo, o que recebe o visitante na entrada nascente do edifício, que nos remete para uma representação/projeção do território da Maia, mas igualmente para um conjunto de outras imagens que, a seu modo, fornecem pistas ao espetador acerca dos diferentes núcleos e suas temáticas da exposição no Fórum, como sejam, a paisagem, a manualidade, o arquivo/memória, entre outros. Esta identidade gráfica concebida pelo designer vai disseminar-se pelo espaço público, pois será também observável na rede de mupis da cidade.
Texto de Carla Santos Carvalho
Na bienal
Júlia de Carvalho Hansen
+
Texto
Júlia de Carvalho Hansen nasceu em São Paulo, em 1984. É poeta e astróloga. Tem cinco livros publicados e quatro plaquetes. Seus dois livros mais recentes foram publicados pela editora Chão da Feira: "Romã" (2019) e "Seiva veneno ou fruto" (2016). Em Portugal a Douda Correria re-editou "Cantos de estima" (2015) e a Não Edições publicou "O túnel e o acordeom" (2013). Estudou Letras na Universidade de São Paulo e é mestre em Estudos Portugueses pela Universidade Nova de Lisboa. Participou de eventos, debates e divulgações literárias diversas, como a programação oficial da FLIP em 2018 e também em 2021. Atualmente integra a comissão final de Júri do Prêmio Oceanos de Literatura.
Na bienal
Júlia de Luca
+
E-mail Arte
Fotografia
MUPI's
Publicações
Residência Artística
Residência Artística
Vídeo
O corpo caminhante de Júlia de Luca (n. 1990) inscreve-se na paisagem num registo do qual ressoa esse momento transformador em que a arte deixa de imitar a natureza para se envolver com a natureza, ou como sustenta Maderuelo, esse momento em que natureza passa a ser “sujeito, processo ou destino do ato artístico” e em que, concomitantemente, esse ato artístico não se constrói “como uma representação formal da natureza, mas com a consciência da perceção das relações entre o homem e o mundo natural”11. Javier Maderuelo, Actas arte y naturaleza del I Curso. (Huesca, Diputación de Huesca, 1995), 17.. A poiética de Luca, herdeira de uma longa linhagem de práticas artísticas como a land art ou a body art, afirma-se primeiro como performance na paisagem, recorrendo a vários meios, como a fotografia ou o vídeo, como forma de registar esses momentos performático-narrativos que são, ao mesmo tempo, percursos de pesquisa e descoberta de si mesma.
Em minha prática, observo como meu corpo responde a sentimentos e emoções. Proponho-me navegar em campos internos para trazer de alguma forma o que ainda era obscuro, muito subjetivo ou difícil de me relacionar.
Também assim aconteceu na Maia, onde a artista multidisciplinar brasileira esteve em residência. São os registos desses percursos performáticos no território maiato que se apresentam na Bienal: em junho na rede de mupis da cidade e, em permanência, na mostra de vídeo.
Texto de Carla Santos Carvalho
Na bienal
Léa Castro Neves
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MUPI's
Léa Castro Neves (Porto, 2002). Frequenta o terceiro ano da Licenciatura em Cinema e Audiovisual da ESAP – Porto. Fez Erasmus na Academia de Belas Artes de Roma e estagia na Casa da Imagem – Fundação Manuel Leão. Desenvolve projetos na área da escrita e da fotografia.
Na bienal
Leonor Parda
+
Concerto
Instalação
São bons ventos os que trazem o projeto A Leste até a BM23. Com eles chegam promessas de dias soalheiros e simultaneamente de tempestades.
No decurso da Bienal, esta comunidade de afetos, de experimentação transdisciplinar e reflexão crítica, transporta-se do Porto para a Maia. No espaço expositivo, propõe-se criar uma instalação performativa, híbrida e orgânica, que se auto define como um “local de partilha, empatia, multi-pluri-trans”. É nesse lugar de fruição, ao mesmo tempo de relaxamento e festa, de discussão e partilha, de exposição e pensamento – em permanente estado de ativação – que decorrem quatro momentos performativos que convidam à participação da comunidade: um projeto colaborativo dos artistas Leonor Parda e António Manso Preto; uma performance do bailarino e coreógrafo António Ónio; uma outra, da artista multidisciplinar FER, cuja prática se move entre a performance, a música e o teatro; e finalmente, a festa, que contará com as participações do artista visual e músico Pisitakun Kuantalaeng, bem como de FER, Onio e Parda.
Ocupando o lugar se transforma o lugar, se transforma o mundo. A Leste na Bienal da Maia é de alguma forma um epíteto de uma Bienal que se pretende afirmar como um espaço de “utopias realizáveis”.
Na bienal
Liliana Coutinho
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Texto
Liliana Coutinho (Lisboa, 1977) é curadora e programadora de Debates e Conferências da Culturgest, em Lisboa. Integrou a equipa de curadores do festival de Arte e Tecnologia INDEX 2022 (12 a 22 Maio 2022, Braga). Doutora em Estética e Ciências da Arte pela Univ. Paris 1, é investigadora do I.H.C. – FCSH/UNL. Fez a coordenação editorial de Close-Up (Orfeu Negro, 2022). Coeditou o livro Paisagens Imprevistas (Materiais Diversos, 2020). Publicou, entre outros,”O Palco da “Comunidade dos que não têm nada em comum”, Ana Leonor Santos e André Barata (org.), em Como viver juntos? Sobre ética animal e do ambiente, Covilhã, Ed. Praxis, 2022; “O tempo da Serpente – Eros e o fazer da pintura”, em Formas que se tornam outras. Júlio Pomar, Lisboa: Documenta / Cadernos do Atelier-Museu Júlio Pomar, 2020; “Quando a Performance encontra o museu: em diálogo com Catherine Wood”, em Performance na Esfera Pública, Lisboa: Orfeu Negro, 2017; “Ana Vieira – Uma casa tocada pelo olhar”, in Sardo, Delfim, Serrão, Victor e Caldas, João Vieira (dir.), Historia de Arte nos Açores, Direcção Regional da Cultura - Governo Regional dos Açores, Angra do Heroismo, 2017. Foi responsável pelo Serviço Educativo do Museu de Arte Contemporânea de Serralves. Colaborou com o Teatro Municipal Maria Matos, CAM – Fundação Calouste Gulbenkian, M.A.C. Serralves, Le Plateau (Paris), Artistas Unidos e Atelier Re.Al. É Professora convidada na Pós-Graduação em Curadoria de Arte, da FCSH/UNL.
Na bienal
Maria Paz & Leonor Arnaut
+
Concerto
E-mail Arte
Instalação
Pintura
Vídeo
A liberdade é um mistério,
todo dia se decifra
todo dia se disfarça11. Tom Zé, “Sobre a liberdade”, faixa 3 em O jardim da política, Palavra Cantada Produções Musicais, 1998, CD.
O trabalho de Maria Paz (n. 1998) é sobre a liberdade, sobre a emancipação. A emancipação do corpo, a liberdade de género, a liberdade de ser. E é sobretudo na escultura, em objetos cerâmicos ou de pedra, que se materializam as suas formas híbridas fantásticas, de cariz abstratizante, que, no entanto, não parecem desligadas de uma certa ideia de pintura. Esse fluxo contínuo entre a pintura e a escultura, presente no corpus de trabalho da artista é, por exemplo, observável na obra bandeira, pintura sobre tecido, cuja dimensão substancial e a forma como se dispõe no espaço acaba por lhe conferir um caráter para além do bidimensional. A relação torna-se mais evidente em trabalhos como as monstras, nos quais a pintura se torna efetivamente tridimensional. Aí, talvez mais do que em qualquer outro das peças que se apresentam nesta exposição, vêm à superfície os questionamentos de Maria Paz: a afirmação do corpo emancipado, intersexual, nutrício, vital, desmultiplicado, livre. É, de resto, a partir desta instalação, composta por criaturas orgásticas, que Maria Paz constrói um diálogo com a arte vocal de Leonor Arnaut (n. 1996), que se materializa numa instalação sonora e num concerto performativo que Arnaut fará no primeiro dia da Bienal. Um diálogo que é também um convite à transmutação dos corpos e dos sonhos para um novel território habitado por seres fluídos e livres.
Texto de Carla Santos Carvalho
Na bienal
Mariana Barrote
+
E-mail Arte
Instalação
Performance
Publicações
Vídeo
Caudal rítmico no leito opalino (2023), essa nave do futuro da qual ecoam tempos passados, é peça central, do conjunto de trabalhos que Mariana Barrote (n. 1986) apresenta na BACM. Doutoranda em Artes Plásticas na Faculdade de Belas-Artes da Universidade do Porto, a artista desenvolve uma pesquisa que reflete sobre as políticas de representação do corpo a partir dos seus processos evolutivos e sistemas de classificação. O corpo e as suas transformações ancoradas em memórias despoletadas por gestos, gestos iterados no espaço e no tempo, o corpo no seu campo expandido. É dessa matéria que se faz essa nave-sarcófago opalina, encapsulando vestígios de um corpo só imaginado – uma máscara, uma braçadeira, um par de mãos entrelaçadas repousam no topo do artefacto. O tempo suspenso é interrompido por um conjunto de desenhos cravados a goiva em folha de silicone, observáveis nas faces laterais da obra, bem como nos já referidos vestígios. Sobre eles afirma a artista: “Como a nossa pele, onde se inscreve um tempo anterior ao da nossa forma, literalmente, a superfície da peça está inscrita, na sua maioria. As paredes têm relevos com desenhos de sequências de corpos e movimentos, muitos deles partiram da observação do arquivo digital que compilei. Todos remetem ao corpo, à sua replicação, desmultiplicação”. Se por um lado esta peça, bem como as colunas que a ladeiam, nos remetem para a ideia de sepulcro, de rito funerário, não é despiciendo o facto delas, simultaneamente, emanar a luz, sinónimo de vida. É neste fluxo entre o que foi/o que é/o que virá a ser que a obra acontece. Nesta exposição mostra-se também uma série de desenhos a tinta-da-china à qual está subjacente a mesma lógica de repetição e transformação que povoa Caudal…; igualmente se apresentam três vídeos, parte de uma série intitulada Tour de Main, expressão francesa que suscita uma duplicidade interpretativa que é uma recorrência do trabalho de Barrote.
Texto de Carla Santos Carvalho
Na bienal
Mariana Camacho
+
Concerto
Vídeo
Há algo em nós que estremece quando escutamos, com o corpo todo, a voz e suas plasticidades de Mariana Camacho (n. 1993). Da música erudita ao jazz, da pop à world music, a cantora e performer madeirense move-se livre entre e tipologias musicais e formas de fazer. Fundindo, criando, mesclando, improvisando, transformando. A somar a múltiplas, ecléticas e transdisciplinares experiências colaborativas, em duos, em trios, em coros, a artista criou, em 2019, a sua “banda de uma mulher só”, na qual desenvolve uma pesquisa em torno da improvisação, da intertextualidade, da exploração vocal e da composição em tempo real, recorrendo a loops e teclados. Neste projeto one woman band, Mariana Camacho convoca amiúde o universo da música tradicional portuguesa, que incorpora e transforma, devolvendo-nos uma paisagem sonora infinitamente mais vasta. Em vésperas de lançar um álbum a solo, a cantora apresenta-se em concerto no pequeno auditório, a 23 de setembro.
Texto de Carla Santos Carvalho
Na bienal
Mariana Couto
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Design de espaço expositivo
Mariana Couto (n. 2001), designer de interiores, foi desafiada pelo curador José Maia a criar alguns dos dispositivos expositivos da BACM 2023 (sobretudo nos casos em que os artistas não criaram soluções próprias). Mais do que desenvolver estruturas expositivas para uma determinada mostra, pretendia-se sobretudo imaginar soluções que permitissem uma efetiva relação entre a obra e o observador e que esse trabalho, que convoca para o espaço expositivo outros materiais, sobretudo reciclados, que acrescenta camadas aos trabalhos que são exibidos, estabelecesse, uma linha de continuidade entre o conceito de uma Bienal que caminha em direção ao futuro, com os pés assentes no presente, as obras dos artistas que a consubstanciam e os espetadores que, finalmente, a ativam. Nesse sentido, Mariana Couto desenhou dispositivos para a exposição de trabalhos de artistas e coletivos como, Pedra no Rim, Carlos Trancoso e April ou Diogo Nogueira, Sofia Leitão e Mariana Barrote. Estruturas diversas, que dialogam obviamente com o espaço, mas que têm, essencialmente, a obra e as formas de expandir as relações entre a obra e o espetador.
Texto de Carla Santos Carvalho
Mathias Gramoso com Ivy Lee Fiebig & Pedro Moraes
+
E-mail Arte
Instalação
Publicações
Residência Artística
Vídeo
A preocupação com as questões ecológicas, com as alterações climáticas, atravessa a prática artística de Mathias Gramoso (n. 1990), materializando-se em intervenções e instalações no espaço público e em galerias, um pouco por toda a Europa. Há um outro traço transversal ao trabalho do artista franco-português, o facto de habitualmente se desenvolver em processos colaborativos. Assim acontece na Maia. A instalação I died once, I can die twice (2023) constitui-se como um corredor/túnel negro, de aproximadamente 15m quadrados, com duas entradas, cujo solo é recoberto por cinzas e areias provenientes de incêndios florestais recentemente ocorridos em Portugal. Uma antinómica versão An die Freude, a ode à alegria de Schiller, parte integrante da Nona de Beethoven, confronta sensorialmente o espetador, ao mesmo tempo que a luz difusa reforça a ideia de cenário pós-apocalíptico. As sonoridades perfeitas do compositor alemão entrelaçam-se com registos sonoros dos ventos Iónicos captados por Ivy Lee Fiebig (n. 1992) enquanto navegava no Mediterrâneo. A instalação sonora Lodos & Poyraz, os ventos a que a tradição popular, com raízes na mitologia clássica, também chama Ventos das bruxas (por provocarem alterações físicas e psíquicas nos seres humanos), insere-se numa prática que tem conduzido a artista alemã a territórios de pesquisa e construção de atmosferas psicológicas, microclimas reativos e espaços de experimentação em que se equacionam vida e sustentabilidade. Questões que de outra forma estão igualmente presentes no trabalho do artista paulistano, Pedro Moraes (n. 1990). A-B é uma instalação de 2m x 1m, que aspira o pó do presente, o pó invisível remanescente da ação humana e filtra-o, para o transformar em arte. Só que essa transmutação resultante do processo de filtragem das partículas do ar, só se torna possível pela passagem do tempo, é ela que reificará os pigmentos em “pintura”. É nesta perceção de contrastes e paradoxos que acontece o trabalho de Pedro Moraes. Gramoso, Fiebig e Moraes vivem e trabalham em Berlim.
Texto de Carla Santos Carvalho
Na bienal
Miguel Ângelo Marques
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E-mail Arte
Instalação
Pintura
Vídeo
Workshop
Se é verdade que é recorrente um artista ir construindo o seu arquivo pessoal imagético – veja-se como ainda recentemente foram descobertos dois cadernos de desenhos de viagens, de Eugène Delacroix, que desvelam a influência desses esboços e anotações no processo de trabalho do pintor oitocentista francês11. Eugène Delacroix, Journey to the Maghreb and Andalusia, 1832: The travel notebooks and other writings, trad. Michèle Hannoosh, (Pennsylvania, Penn State University Press, 2019). – é também certo que a importância desse arquivo se manifesta de modo diferenciado nas práticas artísticas. No caso de Miguel Ângelo Marques (n. 1994), artista cujo corpus de trabalho assenta na pesquisa de relações entre imagem e signo, esse arquivo, no caso constituído por um vasto reportório imagético pessoal e coletivo, intimamente ligado à noção de memória, assume particular relevância. É a partir dele que constrói as suas narrativas visuais, fundamentalmente através da pintura, mas também com recurso a outros meios como sejam o vídeo, a gravura ou a escultura. É esse, aliás, o caso da sua participação na Bienal. Partindo de uma investigação histórico-sociológica do território maiato – os característicos bordados, as gravuras medievais em pedra ou as icónicas gravuras neolíticas/calcolíticas de Ardegães, entre outros – expande o seu acervo de imagens e a partir dele produz novas pinturas e os baixos-relevos que se apresentam nesta mostra, a que se juntam trabalhos anteriores. Uma menção ao dispositivo expositivo escolhido para exibir os trabalhos de Marques: grandes painéis de dupla face, em que as obras se dispõem em conjuntos, sugerindo leituras individuais e, simultaneamente, coletivas e que, do ponto de vista formal, nos trazem reminiscências do Bilderatlas mnemosyne (1924-29) de Aby Warburg. Tendo em mente o conceito de partilha e das suas possibilidades enquanto instrumento de transformação, denominador comum de todo este certame, Miguel Ângelo Marques orienta uma oficina de desenho destinada a crianças do 1º ciclo.
Texto de Carla Santos Carvalho
Na bienal
Movimentos Bruxos
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Instalação
Desde o início dos tempos que a física e a metafísica problematizam o conceito de movimento. Mesmo empiricamente sabemos que movimento é sinónimo de transformação, que movimento é sinónimo de existência. Com desenhos, pinturas, esculturas, objetos mecânicos e falantes, sons e cheiros, sombra e luz, o coletivo artístico Movimentos Bruxos constrói instalações imersivas e cinéticas ou, melhor dizendo, constrói cenários cuja ativação só se torna possível na deriva do espetador. Estas paisagens cinéticas surrealizantes, onde se cruzam realidade e fantasia, onde a trivialidade do objeto quotidiano se expande e se transfigura e, finalmente, se faz arte, são obra do coletivo constituído por Carlos Lima (n. 1970), Dora Vieira (n. 1991) e João Alves (n. 1983) e que, nesta circunstância, conta também com a participação do artista transdisciplinar Ruca Bourbon, a.k.a. Doutor Urânio. Do trabalho coletivo destes artistas ressoa essa paródica “ciência das soluções imaginárias” inventada por Alfred Jarry11. Alfred Jarry, Gestes et opinions du docteur Faustroll, pataphysicien: roman néo-scientifique, (Paris, Eugène Fasquelle, 1911), 22., a Patafísica, que no pós-guerra inspiraria a criação do Colégio da Patafísica22. Criado em 1948, em Paris, o Colégio da Patafísica, tinha por missão perpetuar a “ciência” inventada no início do século XX por Jarry. Dele farão parte figuras como Jean Genet, Umberto Eco, Boris Vian, Joan Miró, Man Ray, Max Ernst, Marcel Duchamp ou Raymond Roussel. , instituição de cariz anti-académico, que reuniu inúmeras personalidades da literatura e das artes, muitas delas com ligações aos movimentos surrealistas. E se o propósito do Colégio era dedicar-se, na senda de Jarry, aos estudos eruditos sobre ciências inventadas e inúteis, também o coletivo Movimentos Bruxos parece mover-se nos territórios para além da física e da metafísica, também a sua práxis parece edificar-se nos territórios patafísicos, essa “ciência do particular” de que nos fala Jarry33. Alfred Jarry, Gestes et opinions du docteur Faustroll, pataphysicien: roman néo-scientifique, (Paris, Eugène Fasquelle, 1911), 21., que se propõe examinar as leis que regem a exceção, as leis que regem esse outro universo que não é este, mas que nesta circunstância é.
Dora Vieira e Carlos Lima, juntamente com os também artistas e músicos David Machado e Tito Silva, formam o quarteto Moto Rotos, um projeto fundado no coração do coletivo Oficina Arara, em 2016. Os Moto Rotos apresentam-se em concerto a 23 de setembro, prometendo “momentos intensos de siderurgia, entre liberdade, ruído e energia, onde a música se funde com o ambiente industrial num hipnótico espetáculo de faíscas”.
Texto de Carla Santos Carvalho
Na bienal
Náhir Capêlo
+
MUPI's
Fecha os olhos e vê.11. James Joyce citado em Georges Didi-Huberman, O que nós vemos, o que nos olha, trad. Golgona Anghel e João Pedro Cachopo, (Porto, Dafne, 2011), 9.
Um raio de luz atravessa o espaço arquitetónico e dá uma nova visibilidade ao jardim de inverno do Fórum. Dessa intervenção transformadora, imaginada por Náhir Capêlo (n. 1994), emerge uma paisagem enformada pela instalação sonora criada pela artista em parceria com Henrique Costa (n. 1995). E se a paisagem é, por definição, um construto humano, nesta circunstância é-o duplamente pois os seus limites são as paredes de betão do edifício. A arquitetura controla e define o espaço que é aqui o lugar da natureza, um lugar que simula um outro lugar, aquele em que a natureza, alheia à intervenção humana, se regula a si mesma. Sobre o processo, afirma Náhir Capêlo:
Após algumas visitas ao espaço notámos características sonoras próprias da situação de condensação. As transformações da matéria para estado líquido produzem esporádicos sons de gotas a cair sobre as grandes folhas das plantas tropicais. Estes ritmos têm sido a base do ambiente sonoro que estamos a produzir, cruzando-os com alterações feitas a partir de diversos sintetizadores.
O questionamento das relações entre o mundo natural e a tecnologia está igualmente presente nos trabalhos que se exibem na rede de mupis da cidade, resultantes de um projeto de investigação intitulado Ela não se move: o que escapa à história também existe realmente. Aí, Capêlo problematiza a dicotomia natureza/cultura e a forma como ela é mediada pelas tecnologias digitais. Se, inicialmente, o projeto foi apresentado enquanto instalação vídeo, aqui são os frames desse mesmo vídeo que se mostram.Num outro trabalho, o vídeo A imensidão das coisas (Fez, Marrocos, 2022), 3’ 48’’, um ligeiro movimento panorâmico introduz-nos a um típico casario magrebino. Os gestos de uma jovem rapariga captam a atenção do espetador. A imagem fixa-se num corpo em movimentos improvisados, um corpo livre que explora a relação consigo mesmo e com os objetos que o rodeiam. Náhir Capêlo faz aqui um exercício sobre a linguagem enquanto instrumento de continuidade entre o humano e o não-humano, sobre a linguagem enquanto forma de expressão não exclusivamente verbal ou sequer humana, sobre a linguagem enquanto ferramenta de emancipação.
Na bienal
Náhir Capêlo & Henrique Costa
+
E-mail Arte
Vídeo
Fecha os olhos e vê.11. James Joyce citado em Georges Didi-Huberman, O que nós vemos, o que nos olha, trad. Golgona Anghel e João Pedro Cachopo, (Porto, Dafne, 2011), 9.
Um raio de luz atravessa o espaço arquitetónico e dá uma nova visibilidade ao jardim de inverno do Fórum. Dessa intervenção transformadora, imaginada por Náhir Capêlo (n. 1994), emerge uma paisagem enformada pela instalação sonora criada pela artista em parceria com Henrique Costa (n. 1995). E se a paisagem é, por definição, um construto humano, nesta circunstância é-o duplamente pois os seus limites são as paredes de betão do edifício. A arquitetura controla e define o espaço que é aqui o lugar da natureza, um lugar que simula um outro lugar, aquele em que a natureza, alheia à intervenção humana, se regula a si mesma. Sobre o processo, afirma Náhir Capêlo:
Após algumas visitas ao espaço notámos características sonoras próprias da situação de condensação. As transformações da matéria para estado líquido produzem esporádicos sons de gotas a cair sobre as grandes folhas das plantas tropicais. Estes ritmos têm sido a base do ambiente sonoro que estamos a produzir, cruzando-os com alterações feitas a partir de diversos sintetizadores.
O questionamento das relações entre o mundo natural e a tecnologia está igualmente presente nos trabalhos que se exibem na rede de mupis da cidade, resultantes de um projeto de investigação intitulado Ela não se move: o que escapa à história também existe realmente. Aí, Capêlo problematiza a dicotomia natureza/cultura e a forma como ela é mediada pelas tecnologias digitais. Se, inicialmente, o projeto foi apresentado enquanto instalação vídeo, aqui são os frames desse mesmo vídeo que se mostram.Num outro trabalho, o vídeo A imensidão das coisas (Fez, Marrocos, 2022), 3’ 48’’, um ligeiro movimento panorâmico introduz-nos a um típico casario magrebino. Os gestos de uma jovem rapariga captam a atenção do espetador. A imagem fixa-se num corpo em movimentos improvisados, um corpo livre que explora a relação consigo mesmo e com os objetos que o rodeiam. Náhir Capêlo faz aqui um exercício sobre a linguagem enquanto instrumento de continuidade entre o humano e o não-humano, sobre a linguagem enquanto forma de expressão não exclusivamente verbal ou sequer humana, sobre a linguagem enquanto ferramenta de emancipação.
Texto de Carla Santos Carvalho
Na bienal
Nenaza
+
Dj set
E-mail Arte
Vídeo
Workshop
Nenaza (1994) é uma artista drag e DJ que se movimenta entre Vigo, Porto e Madrid. É neste território triangular que emerge o universo onírico e fantástico das fadas, que se constitui como alicerce conceptual de toda uma prática artística orientada para as questões de género, desde logo, o género feminino. Mas esse universo fantástico, exteriorização e exacerbação de um certo modo de ser feminino que habita, de formas diversas, todos os sujeitos, não deixa de ser contaminado por cenários mais sombrios, indelevelmente marcados pela violência e pela imagética punk. Na Maia, Nenaza realiza um workshop de criação de personagens drag, centrado nas questões do movimento e nos códigos gestuais dessas personagens. Também se apresenta na vertente DJ, com a promessa de ritmos vibrantes – do reggaeton ao funk, da eletrónica ao techno, passando pelo hyperpop e pelo ball – capazes de transportar os corpos para mundos imaginários.
Texto de Carla Santos Carvalho
Na bienal
Olmo
+
Concerto
O som é a matéria vital de Vicente Mateus (n.1996).
Licenciado em artes plásticas, o artista multidisciplinar e arte educador, desenvolve uma práxis ligada ao desenho, mas sobretudo ao som e às suas plasticidades, encontrando na percussão um espaço privilegiado de expressão.
A esta Bienal, Vicente Mateus traz os seus instrumentos de percussão, quer numa vertente puramente expositiva enquanto instrumentos de uma poiética, quer na sua vertente performática, como veículos de ativação de um tempo e de um ritmo do lugar. O artista concebeu uma instalação sonora para o espaço expositivo, cuja ativação ocorre em diferentes ocasiões no decurso da Bienal, desde logo, no dia inaugural, bem como um trabalho vídeo que será exibido na mostra online e uma publicação. Todas estas peças constitutivas do projeto expositivo ampliam e complexificam as ideias de experimentação e investigação da plasticidade do som que são transversais ao trabalho do artista e, que nalguns momentos, convidam à participação do espetador, até porque, não esqueçamos, ele é também arte educador. Vicente Mateus, apresenta-se, igualmente, em concerto a 17 de junho, com André Silva, com quem constituiu recentemente o duo OLMO. É atualmente artista associado da Sonoscopia, uma estrutura de criação, experimentação e reflexão a partir do som.
Texto de Carla Santos Carvalho
Na bienal
Osíideto
+
Dj set
Performance
Osíidéto começou por ser uma dupla de música eletrónica composta por Afonso Loureiro e Francisca Mortágua, ambos artistas plásticos com interesses se-melhantes. Entretanto, transformou-se em algo maior. Osíidéto é agora um espaço plural em nome da arte. No ativo desde setembro de 2022, atualmente tem uma re-sidência no Café au Lait e já colaborou com artistas plásticos como Chaostrophy, Gonçalo Roquimar, João Tadeu ou Sofia Rocha e com DJs como Arrogance Arrogance ou Phaser. No seu próprio trabalho artístico, Osíidéto demonstra preocupação com o espaço (decoração, iluaminação, ambiente) em relação aberta com a música, as pessoas e o contexto social da rave/espaço noturno.
Afonso Loureiro é artista plástico, trabalha com performance, instalação, texto e som.
Pedra no Rim
+
E-mail Arte
Escultura
Publicações
Vídeo
No princípio era o Bonfim. É nessa freguesia portuense que, em 2018, Fabrizio Matos (n. 1975) e Israel Pimenta (n. 1972) criam o projeto artístico Pedra no Rim. É a partir desse território que desenvolvem uma prática artística peripatética, de reconhecimento e fixação em imagens fotográficas de despojos, de lixo, de objetos encontrados, se se quiser, de naturezas mortas, que são posteriormente materializados em esculturas de cerâmica, constituindo-se como uma espécie de memória do lugar, uma tentativa de contrariar a diluição identitária em curso em alguns bairros da cidade. Uma memória necessariamente sociopolítica, que vagueia entre o belo e o grotesco, salpicada por uma dose de humor e a que não será alheia uma certa aura de mistério. Há nesta dupla artística um cuidado no fazer que replica um cuidado com o lugar, com a vizinhança, com o outro e, por extensão, com o mundo.
É também esse trabalho de desvelamento, de revelação do que está escondido ou esquecido, que agora se apresenta na Bienal da Maia. A alguns objetos trazidos da experiência do Bonfim, somam-se novos trabalhos. Pondo em prática a mesma metodologia usada no Porto, expande-se aqui o campo de pesquisa, adicionando-se novas imagens ao arquivo fotográfico que alimenta o acervo in progress das obras tridimensionais que constituem o projeto Pedra no Rim.
Se no início era o Bonfim, hoje o campo de ação estende-se a outros territórios, alargando-se esse arquivo, que é, num certo sentido, um arquivo do humano.
Texto de Carla Santos Carvalho
Na bienal
Peyvand پیوند
+
Concerto
Performance
PYVAND é um projeto de música eletrónica criado pelos gémeos Sepehr aka Rakhsh e Soheil aka Deioces, ambos DJs e produtores. Nasceram em Teerão no ano 2000 e agora estão sediados no Porto. Juntando os seus estilos e influências distintos, constroem sons hipnóticos influenciados pela música folk tradicional do Irão, destacando a forma como a música e o som são essenciais na existência humana.
Na bienal
Pisitakun Kuantalaeng
+
Concerto
Dj set
São bons ventos os que trazem o projeto A Leste até a BM23. Com eles chegam promessas de dias soalheiros e simultaneamente de tempestades.
No decurso da Bienal, esta comunidade de afetos, de experimentação transdisciplinar e reflexão crítica, transporta-se do Porto para a Maia. No espaço expositivo, propõe-se criar uma instalação performativa, híbrida e orgânica, que se auto define como um “local de partilha, empatia, multi-pluri-trans”. É nesse lugar de fruição, ao mesmo tempo de relaxamento e festa, de discussão e partilha, de exposição e pensamento – em permanente estado de ativação – que decorrem quatro momentos performativos que convidam à participação da comunidade: um projeto colaborativo dos artistas Leonor Parda e António Manso Preto; uma performance do bailarino e coreógrafo António Ónio; uma outra, da artista multidisciplinar FER, cuja prática se move entre a performance, a música e o teatro; e finalmente, a festa, que contará com as participações do artista visual e músico Pisitakun Kuantalaeng, bem como de FER, Onio e Parda.
Ocupando o lugar se transforma o lugar, se transforma o mundo. A Leste na Bienal da Maia é de alguma forma um epíteto de uma Bienal que se pretende afirmar como um espaço de “utopias realizáveis”.
Na bienal
Raul Macedo
+
Sem categoria
É seguro dizer que o curador José Maia se interessa por descobrir os jovens talentos, muitas vezes antes mesmo de estes se aventurarem por aquilo que virá a ser uma carreira artística. Viver arriscadamente, per-seguindo um sonho, ousando ser escutado por alguém que reconheça no nosso olhar algo que faça faísca, é mesmoa tão difícil quanto possa parecer. Já o jovem artista Raul Macedo (n.1997), natural do Porto, formou-se recen-temente na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, e não tem tido mãos a medir13. Nas residências da Bienal da Maia encontrou um lugar que o acolheu de braços abertos para chegar ao que mais preocupa um jo-vem artista em 2023: um estúdio ou atelier que, de alguma forma, substitua a dinâmica que se vive nos corredores da FBAUP – onde um colega se intro-mete para ajudar, ao mesmo tempo que o ambiente de crítica mútua dos trabalhos produzidos contribui para a criação. Companhia versus concor-rência é um binómio genuinamente inspirador.
Macedo apresenta, na tipologia de MUPIs da BACM, “Marathon Reflection”, um trabalho infinitamente urbano acerca de corpos que circulam na cidade, sem que esta se desvende ou eles se desvendem a si mesmos. O trabalho fotográfico de Macedo relembra-nos séries fotográficas de Wolfgang Till-mans, nas quais este se dedicava a registar os despojos das noites de farra, resultantes de um estado de liberdade individual, muito característica dos vinte e poucos anos. A vida boémia da noite, as marcas da presença humana num lugar – temporário ou habitado – viagens que nos contam uma história incompleta acerca da luz, da sombra, dos enquadramentos aparentemente acidentais. São essencialmente acerca de quem está do outro lado da lente, do que ele deseja captar, e do que pretende que seja visto. Para a mostra de vídeo-arte, Raul Macedo apresenta “Antropocínic”, uma pseudo-narrativa surrealista, que nos convida a viajar para dentro de um olho humano, num conjunto de imagens que aparentam ser o mar, cruzadas com imagens es-troboscópicas e visão térmica. Esta peça alarga um pouco mais os temas de interesse do jovem artista, que nos expande a curiosidade em torno do que irá explorar de seguida.
13 Foi prémio aquisição pela FBAUP com o vídeo “Being Fond” (2023), que além de aí ter sido exposto, seguiu para o Centro para os Assuntos da Arte e Arquitectura – CAAA, e para o Es-paço Mira;
Na bienal
Sarilho
+
Dj set
Performance
Osíidéto começou por ser uma dupla de música eletrónica composta por Afonso Loureiro e Francisca Mortágua, ambos artistas plásticos com interesses se-melhantes. Entretanto, transformou-se em algo maior. Osíidéto é agora um espaço plural em nome da arte. No ativo desde setembro de 2022, atualmente tem uma re-sidência no Café au Lait e já colaborou com artistas plásticos como Chaostrophy, Gonçalo Roquimar, João Tadeu ou Sofia Rocha e com DJs como Arrogance Arrogance ou Phaser. No seu próprio trabalho artístico, Osíidéto demonstra preocupação com o espaço (decoração, iluaminação, ambiente) em relação aberta com a música, as pessoas e o contexto social da rave/espaço noturno.
Afonso Loureiro é artista plástico, trabalha com performance, instalação, texto e som.
Na bienal
Sofia Fernandes da Mata
+
Design de jóias
Escultura
A joalharia é tudo. Na joalharia cabe tudo. A cerâmica e os têxteis e a fotografia. É desta forma que Sofia Fernandes da Mata se relaciona com o seu fazer artístico.
Ouviu vozes do saber em escolas como a Massana, de Barcelona, ou a Saimaa University of Applied Sciences, na Finlândia. Andou perdida e encontrou-se. Em 2017 atravessou o Douro e acabou construindo a casa nas Terras Altas. Colou os ouvidos ao chão, meteu as mãos na terra e na pedra. Sentiu os silêncios. Escutou a matéria. A matéria que enforma as suas peças de joalharia artística – madeira, ferro, linha de algodão, troços de videira, alpaca, ossos – objetos aparentemente frágeis, delicados e simultaneamente poderosos, pois deles emanam forças vitais telúricas. São algumas destas obras, com títulos como Na harmonia de certos sons, voltamos ao ventre do universo (2019), que nos convocam para um lugar sem tempo, que se apresentam na BACM23.
Texto de Carla Santos Carvalho
Na bienal
Sofia Leitão
+
E-mail Arte
Escultura
Vídeo
O sangue, a bílis amarela, a bílis negra e a flegma: os quatro humores corporais constitutivos da teoria clássica dos temperamentos, do Corpus hippocratium, humores dos quais, acreditavam aos gregos, dependia o equilíbrio/desequilíbrio do humano, são aqui materializados nas esculturas de Sofia Leitão (n. 1977). Mas esses fluídos humanos, ao contrário de provocarem repulsa, apresentam-se antitéticos ao olhar do espetador como refulgentes e vívidos objetos preciosos, aos quais não será alheia a ideia de joia (palavra cuja origem remonta ao francês antigo joie, significando artefacto de valor, fonte de prazer). Recorrendo a materiais como as contas de acrílico e de vidro ou as lantejoulas, a artista opera essa transformação, conferindo a estes humores uma ressignificação, uma nova axiologia. De resto, esta ideia de transformação, de metamorfose, se se quiser, é inerente ao trabalho de Sofia Leitão, consubstanciada aqui, não só nas peças já referidas, mas em todas a que neste palco se apresentam, quer esse palco seja o chão, quer sejam os plintos onde repousam outras peças, como é o caso das caveiras, vanitas sinónimas da derradeira transformação. Processo que duplamente se reafirma na série Transmutação, um título que por si só é todo um enunciado da leitura que vimos propondo.
Texto de Carla Santos Carvalho
Na bienal
Sofia Lomba
+
E-mail Arte
Instalação
Performance
Publicações
Vídeo
O corpo é a matéria de que se faz a obra de Sofia Lomba (n. 1984). Quer seja na sua vertente performática, quer seja através do desenho. E nessa matéria que é o corpo, essa matéria dúctil, em permanente mutação, que se fundem arte e vida. A partir dele, a artista multidisciplinar explora questões de género e identidade, questões de sexualidade e suas representações, sob um viés ecofeminista.
A atenção de Sofia Lomba está particularmente focada na desconstrução do discurso dominante de género e na forma como ele produz e reproduz, como ele cria e condiciona os corpos, sujeitando-os a uma apertada e rígida camisa de forças normativa.
As diáfanas séries de desenhos de grandes dimensões (acrílico sobre seda) envolvem o espetador numa paisagem híbrida, espécie de floresta simultaneamente genitália e floral, entretecida entre a imagética de raiz científica e o imaginário especulativo. Estas imagens são sujeitas a um processo de iteração e transformação, no qual a vagina se faz vulcão se faz vulva se faz clitóris se faz pénis. São estas paisagens híbridas, mas também as suas práticas performativas que aqui se apresentam, nomeadamente, a conversa performance em que os desenhos se transformam em toalhas de piquenique, no qual a comunidade é convidada a participar.
Texto de Carla Santos Carvalho
Na bienal
Super Bronca
+
Concerto
E-mail Arte
Publicações
Vídeo
Artista multidisciplinar e performer sediada no Porto, Teresa Bessa (n. 2000) recorre a meios como a pintura, o desenho, o vídeo ou a fotografia. A sua prática artística assenta, sobretudo, num questionamento contínuo da identidade, nas suas facetas existenciais, queer, feministas e sociopolíticas. O corpo e os seus contextos são, por isso, questões centrais no trabalho de Teresa Bessa. É daí que parte para a construção de narrativas ficcionais e metafóricas das quais ressoam ecos expressivos e surrealizantes.
Simultaneamente, inicia em 2022, o projeto documental Morto. com inevitável correlação com a imagem de marca do município Porto. Trata-se de um ensaio fotográfico in progress, acerca dos processos de gentrificação, equacionando problemáticas como a dualidade centro-periferia ou as desigualdades socioeconómicas. É precisamente este projeto que Teresa Bessa traz à BACM23, desta feita investigando e percorrendo as terras da Maia e mapeando as suas idiossincrasias. O trabalho exibe-se no recinto principal da exposição e nas áreas exteriores, em 16 mupis do município, bem como numa publicação de artista.
Licenciada em Artes Plásticas pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, em 2020 funda, com Beatriz Vale, o coletivo artístico Super Bronca, com o propósito de desenvolver práticas performativas de raiz experimental precisamente questionando a identidade e os limites do corpo e a sua inserção no contexto sociopolítico. A dupla Super Bronca apresenta-se em concerto na Bienal, com a promessa de sonoridades de raiz experimental, de que ressoam claramente ecos do rock feminino.
Texto de Carla Santos Carvalho
Na bienal
Susana Chiocca & Pedro André
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Concerto
Palestra
Performance
Workshop
De improviso, em vésperas do 25 de abril de 2022, a artista multidisciplinar Susana Chiocca (n. 1974) desafiou o músico Pedro André (n. 1983) para uma performance que deveria ocorrer no dia seguinte, no âmbito do evento “Sopa de Pedra”, organizado pelo Café Candelabro. E assim se fez. Sinónimo das coisas que estão vivas, as sonoridades analógicas criadas pelo artista sonoro e visual Pedro André, na circunstância assentes na improvisação, convergiram com a leitura performática de textos escritos por mulheres, realizada por Chiocca. Essa foi a base conceptual para Ensaio aberto, o projeto musical-performativo que agora se apresenta no auditório do Fórum: a música produzida por André desenvolve-se em processos simultâneos de harmonia e dissonância com os textos mais ou menos poético-literários, mais ou menos políticos, mais ou menos provocatórios, selecionados por Chiocca para este momento performático, de autoras como Djiaimilia Pereira de Almeida, Olga Novo ou Cláudia R. Sampaio. Sem ensaios, sem rede. Simplesmente fazendo acontecer. Esta prática próxima da spoken word não é alheia ao modus faciendi de Chiocca, artista e performer que se vem afirmando nas últimas duas décadas. Desde logo, com o projeto incontornável Bitcho, essa “figura ambígua, meio ancestral com um híbrido folk, que dá corpo a um animal feminino”. O bitcho múltiplo e livre que é, de alguma forma, epítome do trabalho da artista. Pedro André é, desde 2020, compositor residente do Museu da Cidade do Porto e participa, frequentemente, como artista sonoro em projetos colaborativos de artes plásticas e performativas.
Texto de Carla Santos Carvalho
Teresa Bessa
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Fotografia
MUPI's
Publicações
Residência Artística
Vídeo
Artista multidisciplinar e performer sediada no Porto, Teresa Bessa (n. 2000) recorre a meios como a pintura, o desenho, o vídeo ou a fotografia. A sua prática artística assenta, sobretudo, num questionamento contínuo da identidade, nas suas facetas existenciais, queer, feministas e sociopolíticas. O corpo e os seus contextos são, por isso, questões centrais no trabalho de Teresa Bessa. É daí que parte para a construção de narrativas ficcionais e metafóricas das quais ressoam ecos expressivos e surrealizantes.
Simultaneamente, inicia em 2022, o projeto documental Morto. com inevitável correlação com a imagem de marca do município Porto. Trata-se de um ensaio fotográfico in progress, acerca dos processos de gentrificação, equacionando problemáticas como a dualidade centro-periferia ou as desigualdades socioeconómicas. É precisamente este projeto que Teresa Bessa traz à BACM23, desta feita investigando e percorrendo as terras da Maia e mapeando as suas idiossincrasias. O trabalho exibe-se no recinto principal da exposição e nas áreas exteriores, em 16 mupis do município, bem como numa publicação de artista.
Licenciada em Artes Plásticas pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, em 2020 funda, com Beatriz Vale, o coletivo artístico Super Bronca, com o propósito de desenvolver práticas performativas de raiz experimental precisamente questionando a identidade e os limites do corpo e a sua inserção no contexto sociopolítico. A dupla Super Bronca apresenta-se em concerto na Bienal, com a promessa de sonoridades de raiz experimental, de que ressoam claramente ecos do rock feminino.
Texto de Carla Santos Carvalho
Na bienal
Tiago Loureiro
+
E-mail Arte
Instalação
Performance
Publicações
Vídeo
Workshop
O vermelho é a cor primordial, a cor arquetípica, a primeira dominada e reproduzida pelo ser humano, como bem nos lembra Michel Pastoureu na sua história das cores11. Michel Pastoureau, Vermelho, trad. José Alfaro, (Lisboa, Orfeu Negro, 2019), 7. . E é de vermelho (e suas nuances), essa cor que a ciência oitocentista haveria de classificar como primária22. Michel Pastoureau, Vermelho, trad. José Alfaro, (Lisboa, Orfeu Negro, 2019), 155. , que se veste parte do fazer artístico de Tiago Loureiro (n. 1995). Mestre em Práticas Artísticas e Contemporâneas pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, Loureiro constrói no território expositivo da Bienal uma instalação, que é simultaneamente um espaço performativo. Uma estrutura triangular recoberta de camilhas vermelhas, enormes e pesadas toalhas circulares, da qual ressoam ideias de escultura, mas sobretudo de múltiplas possibilidades de forma e movimento, por isso, necessariamente, de teatralidade. Recorrendo a objetos e figurinos inspirados no seu quotidiano, o artista cria personagens que se movem num universo místico, ritual e, por maioria de razão, onírico. No decurso da Bienal, as possibilidades dos corpos em movimento enquanto transformadores do espaço são exploradas pelo artista em momentos performáticos que apelam à participação da comunidade.
Texto de Carla Santos Carvalho
Na bienal
Vicente Mateus
+
Concerto
E-mail Arte
Instalação
Publicações
Vídeo
Workshop
O som é a matéria vital de Vicente Mateus (n.1996).
Licenciado em artes plásticas, o artista multidisciplinar e arte educador, desenvolve uma práxis ligada ao desenho, mas sobretudo ao som e às suas plasticidades, encontrando na percussão um espaço privilegiado de expressão.
A esta Bienal, Vicente Mateus traz os seus instrumentos de percussão, quer numa vertente puramente expositiva enquanto instrumentos de uma poiética, quer na sua vertente performática, como veículos de ativação de um tempo e de um ritmo do lugar. O artista concebeu uma instalação sonora para o espaço expositivo, cuja ativação ocorre em diferentes ocasiões no decurso da Bienal, desde logo, no dia inaugural, bem como um trabalho vídeo que será exibido na mostra online e uma publicação. Todas estas peças constitutivas do projeto expositivo ampliam e complexificam as ideias de experimentação e investigação da plasticidade do som que são transversais ao trabalho do artista e, que nalguns momentos, convidam à participação do espetador, até porque, não esqueçamos, ele é também arte educador. Vicente Mateus, apresenta-se, igualmente, em concerto a 17 de junho, com André Silva, com quem constituiu recentemente o duo OLMO. É atualmente artista associado da Sonoscopia, uma estrutura de criação, experimentação e reflexão a partir do som.
Texto de Carla Santos Carvalho
Na bienal
Vítor Moreira e Nika com Júlia de Carvalho Hansen
+
E-mail Arte
Vídeo
Entre o suspiro desejante e a angústiado que não nos pertence,
o futuro é dos entendidos: os que duvidam enquanto sabem.11. Júlia de Carvalho Hansen. “Como se faz um futuro?”, texto para a Bienal de Arte Contemporânea da Maia (Maia, 2022).
Júlia de Carvalho Hansen (n. 1984), poeta, astróloga e editora nascida em São Paulo na década em que se afirmou o pós-modernismo22. Jean-François Lyotard publica em 1979 La Condition postmoderne: rapport sur le savoir e, em 1988, Le Postmoderne expliqué aux enfants: Correspondance 1982-1985. Frederic Jameson faz publicar, em 1991, Postmodernism, or, the Cultural Logic of Late Capitalism (livro que era já o desenvolvimento de um artigo publicado na New Left Review, em 1984). São apenas alguns exemplos de pensamento crítico produzido nessa década e que viriam a influenciar as gerações vindouras., escreveu para a Bienal o ensaio poético Como se faz um futuro?, no qual problematiza algumas das questões que vêm assombrando a geração herdeira do pós-modernismo: humano versus natureza ou a vida em um mundo saturado de tecnologia. No seu caso, também especificamente as formas como a astrologia se entrelaça com as existências:
O cerne de um búzio carrega mais mensagens
do que eu e você nos nossos históricos de whatsapp sem dúvida
uma trepadeira escalando um muro sabe melhor o que fazer.33. Júlia de Carvalho Hansen. “Como se faz um futuro?”, texto para a Bienal de Arte Contemporânea da Maia (Maia, 2022).
Nika (n. 2001) e Vítor Moreira (n. 1997), artistas multidisciplinares, com uma prática sobretudo no domínio do audiovisual e multimédia, partem precisamente do texto de Júlia Carvalho Hansen para traçarem o seu próprio “mapa astral”. A partir deste ensaio poético-ativista da escritora brasileira, a dupla criou uma obra – vídeo mappping projetado numa esfera suspensa que, aliás, dialoga com outras esferas presentes no espaço expositivo – que reúne um conjunto de imagens de diferentes proveniências cujo denominador comum é a água. A água, defende Hansen, de que precisamos para fazer futuro.
Texto de Carla Santos Carvalho
Na bienal
Yasmine Moradalizadeh
+
E-mail Arte
Instalação
Performance
Vídeo
Workshop
Yasmine Moradalizadeh (n.1999) é luso-iraniana, artista multidisciplinar e arte educadora. A ascendência cruzada assim enunciada, portuguesa/iraniana, católica/muçulmana, porque é a partir dela que se constrói toda uma poiética. Incidindo sobre questões de identidade, território, arquivo e memória e através de meios como a fotografia, o vídeo ou a performance, a artista recorre a vestígios autobiográficos como forma de autorrepresentação. Esta prática multidisciplinar combina vários domínios: as artes plásticas, em que Moradalizadeh é licenciada pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, mas também a dança urbana que pratica há década e meia ou o curso de piano que realizou no Conservatório Regional de Música do Médio Ave. No âmbito da recente demanda identitária que tem vindo a realizar – quer individualmente, quer em parceria com a sua irmã, a também artista Rebecca Moradalizadeh – Yasmine pesquisou, entre muitos outros, o processo de tingimento de tecidos no Irão e a aprendizagem de práticas artesanais como o bordado, saberes tradicionalmente transmitidos de avós para netas. No espaço expositivo apresenta-se a instalação Heritage, que surge precisamente na sequência de um trabalho sobre a herança têxtil familiar, após uma viagem realizada ao Irão em 2019. Estes saberes ancestrais da antiga Pérsia e simultaneamente do atual Irão, são transpostos igualmente para o território da Bienal através um workshop realizado pela artista em colaboração com as mulheres da Associação Artes Criativas da Maia, bem como uma oficina/debate com estudantes do ensino secundário. Neste espaço aberto ao outro, neste espaço de partilha em que se afirma o poder transformador do conhecimento e que atravessa todo o espírito da Bienal, emerge naturalmente uma forma de ativismo, que neste caso não poder ser separada quer de um questionamento sobre o papel da mulher no mundo contemporâneo, quer de uma ideia de resistência à islamofobia.
Texto de Carla Santos Carvalho
Na bienal
Yasmine Moradalizadeh com Associação de Artes Criativas da Maia
+
Performance
Yasmine Moradalizadeh (n.1999) é luso-iraniana, artista multidisciplinar e arte educadora. A ascendência cruzada assim enunciada, portuguesa/iraniana, católica/muçulmana, porque é a partir dela que se constrói toda uma poiética. Incidindo sobre questões de identidade, território, arquivo e memória e através de meios como a fotografia, o vídeo ou a performance, a artista recorre a vestígios autobiográficos como forma de autorrepresentação. Esta prática multidisciplinar combina vários domínios: as artes plásticas, em que Moradalizadeh é licenciada pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, mas também a dança urbana que pratica há década e meia ou o curso de piano que realizou no Conservatório Regional de Música do Médio Ave. No âmbito da recente demanda identitária que tem vindo a realizar – quer individualmente, quer em parceria com a sua irmã, a também artista Rebecca Moradalizadeh – Yasmine pesquisou, entre muitos outros, o processo de tingimento de tecidos no Irão e a aprendizagem de práticas artesanais como o bordado, saberes tradicionalmente transmitidos de avós para netas. No espaço expositivo apresenta-se a instalação Heritage, que surge precisamente na sequência de um trabalho sobre a herança têxtil familiar, após uma viagem realizada ao Irão em 2019. Estes saberes ancestrais da antiga Pérsia e simultaneamente do atual Irão, são transpostos igualmente para o território da Bienal através um workshop realizado pela artista em colaboração com as mulheres da Associação Artes Criativas da Maia, bem como uma oficina/debate com estudantes do ensino secundário. Neste espaço aberto ao outro, neste espaço de partilha em que se afirma o poder transformador do conhecimento e que atravessa todo o espírito da Bienal, emerge naturalmente uma forma de ativismo, que neste caso não poder ser separada quer de um questionamento sobre o papel da mulher no mundo contemporâneo, quer de uma ideia de resistência à islamofobia.
Texto de Carla Santos Carvalho