Movimentos Bruxos

Desde o início dos tempos que a física e a metafísica problematizam o conceito de movimento. Mesmo empiricamente sabemos que movimento é sinónimo de transformação, que movimento é sinónimo de existência. Com desenhos, pinturas, esculturas, objetos mecânicos e falantes, sons e cheiros, sombra e luz, o coletivo artístico Movimentos Bruxos constrói instalações imersivas e cinéticas ou, melhor dizendo, constrói cenários cuja ativação só se torna possível na deriva do espetador. Estas paisagens cinéticas surrealizantes, onde se cruzam realidade e fantasia, onde a trivialidade do objeto quotidiano se expande e se transfigura e, finalmente, se faz arte, são obra do coletivo constituído por Carlos Lima (n. 1970), Dora Vieira (n. 1991) e João Alves (n. 1983) e que, nesta circunstância, conta também com a participação do artista transdisciplinar Ruca Bourbon, a.k.a. Doutor Urânio. Do trabalho coletivo destes artistas ressoa essa paródica “ciência das soluções imaginárias” inventada por Alfred Jarry11. Alfred Jarry, Gestes et opinions du docteur Faustroll, pataphysicien: roman néo-scientifique, (Paris, Eugène Fasquelle, 1911), 22., a Patafísica, que no pós-guerra inspiraria a criação do Colégio da Patafísica22. Criado em 1948, em Paris, o Colégio da Patafísica, tinha por missão perpetuar a “ciência” inventada no início do século XX por Jarry. Dele farão parte figuras como Jean Genet, Umberto Eco, Boris Vian, Joan Miró, Man Ray, Max Ernst, Marcel Duchamp ou Raymond Roussel. , instituição de cariz anti-académico, que reuniu inúmeras personalidades da literatura e das artes, muitas delas com ligações aos movimentos surrealistas. E se o propósito do Colégio era dedicar-se, na senda de Jarry, aos estudos eruditos sobre ciências inventadas e inúteis, também o coletivo Movimentos Bruxos parece mover-se nos territórios para além da física e da metafísica, também a sua práxis parece edificar-se nos territórios patafísicos, essa “ciência do particular” de que nos fala Jarry33. Alfred Jarry, Gestes et opinions du docteur Faustroll, pataphysicien: roman néo-scientifique, (Paris, Eugène Fasquelle, 1911), 21., que se propõe examinar as leis que regem a exceção, as leis que regem esse outro universo que não é este, mas que nesta circunstância é.  

Dora Vieira e Carlos Lima, juntamente com os também artistas e músicos David Machado e Tito Silva, formam o quarteto Moto Rotos, um projeto fundado no coração do coletivo Oficina Arara, em 2016. Os Moto Rotos apresentam-se em concerto a 23 de setembro, prometendo “momentos intensos de siderurgia, entre liberdade, ruído e energia, onde a música se funde com o ambiente industrial num hipnótico espetáculo de faíscas”.

Texto de Carla Santos Carvalho