Artista transdisciplinar, ator, músico, performer, educador, engenheiro de som. É longa a lista de práticas (podia ser mais longa, talvez) que Henrique Apolinário (n. 1994) tem vindo a desenvolver na última década. De todas elas ressoam denominadores comuns. Por um lado, o questionamento das correlações entre a performatividade dos sons e dos corpos, por outro, e do ponto de vista especificamente musical, o enfoque no desenvolvimento de técnicas experimentais de composição, improvisação e direção musical. Numa afirmação que é todo um enunciado, o artista refere que a sua práxis é uma busca reiterada de “estados psicossomáticos imersivos, procurando uma ligação anímica dos corpos através de pulsações partilhadas, sinestesia e comunicação não-verbal”. Cruzamentos, interseções, apropriações, improvisações, experimentações, conexões, afinidades. De tudo isto se fez o concerto performance em que Apolinário se apresentou com um novo projeto.
O ensemble Sirte é dirigido pelo próprio, que é também violinista, contando com Beatriz Rola, em viola de arco, António Feiteira na percussão e David Machado na eletrónica e processamento de áudio em tempo real. O concerto, em que o ensemble se propôs amplificar as fontes acústicas “com precisão sónica”, transformando o som num instrumento que se acrescenta aos demais e, simultaneamente, funciona como peneira de todos os outros, apresentou sonoridades “hipnóticas, densas, repetitivas” abrindo um espaço à possibilidade da dança.
Texto de Carla Santos Carvalho