Carla Castiajo

Questionar, inquietar, provocar. A estes verbos – mutações de um estado para outro – se pode associar o corpus de trabalho de Carla Castiajo (n. 1974). A artista, que tem o cabelo humano como principal matéria do seu fazer artístico, constrói a sua prática no espaço intersticial de uma série de antonímias: atração/aversão, belo/horrível, coincidência/desfasamento ou vida/morte. Os materiais orgânicos de que se compõem as obras de Castiajo, concretamente os que aqui se apresentam, desde logo o cabelo, revestem-se de um carácter metonímico, ou como nos ensinou Rosalind E. Krauss, de um carácter indicial11. Rosalind E. Krauss, “Notes on the index: part 2”, in The originality of the Avant-Garde and other modernist myths, (The MIT Press, 1986), 211.. Estes vestígios indiciais, os cabelos, os pelos púbicos, são formas de estabelecer uma presença, que é simultaneamente uma ausência, dir-se-ia. Ao explorar estes materiais, Castiajo pretende refletir sobre questões do nosso tempo, que são simultaneamente questões de todos os tempos. Ao construir objetos artísticos – quer sejam joalharia, o seu medium primordial, quer sejam escultura – cuja matéria base é um elemento orgânico que acompanha a existência material do sujeito, mas que lhe sobrevive, a artista portuense convoca uma das preocupações mais recorrentes do humano, a finitude. A estes objetos não é também alheia uma certa ideia de hibridismo, na medida em que a joalharia pode ser escultura, a escultura pode ser joalharia. Recentemente, a artista integrou o bordado na sua prática artística e, nesse contexto, realiza na BM23 um workshop em colaboração com a Associação Artes Criativas da Maia.

Texto de Carla Santos Carvalho