April (n.1999), drag queen e artista multimédia, nasceu e cresceu em Curitiba, no Brasil, mas gosta de afirmar que se “aprimorou no Porto”, cidade a partir da qual desenvolve atualmente a sua prática artística. O seu trabalho explora elementos de raiz transformista em articulação com a performance art. Encontramo-nos, claramente, perante um processo de busca e afirmação identitária, esse percurso contínuo em direção ao eu, “como quem vai em direção a uma meta” de que nos fala Foucault11. Michel Foucault, A hermenêutica do sujeito, trad. Márcio alves da Fonseca e Salma Tannus Muchail, (São Paulo, Martins Fortes, 2006), 262., que recorre a mediums como a performance, a música ou as artes visuais. Na Maia, o trabalho de April apresenta-se em diversas vertentes: exposição, publicação, workshop, vídeo e email arte. Em termos expositivos, exibem-se uma série de toalhetes desmaquilhantes que a artista usa no final das suas performances, nos quais ficaram impressos vestígios dos rostos das várias personagens em que se desmultiplica. Imagens que não deixam por isso de ser autoficções de si mesma, retratos de um eu em permanente transformação, em perpétuo aperfeiçoamento. A 17 de junho, a artista realiza uma oficina de pintura facial, equacionando precisamente esse processo de transformação do rosto; em agosto, participa na mostra de vídeo com uma obra realizada em parceria com a fotógrafa e videasta Léa Castro Neves (n. 2002); em junho, exibem-se, na rede de mupis, os registos fotográficos das múltiplas personagens em que April se transforma, captados por Léa Castro Neves.
Texto de Carla Santos Carvalho